Burgholzli-Zirique, 12 de maio de 1909
Caro Professor Freud,
Mais uma vez devo lhe dar satisfações por um pecado de omissão. Mais uma vez o deixo, por longo tempo, sem notícias minhas. Pois bem, voltei da Itália são e salvo e encontrei sua carta à minha espera. Subscrevo inteiramente sua opinião de que devemos ter cuidado para não sermos arrastados pelas impressões, nem condescendermos com expectativas e planos que vão longe demais. O problema é que o anseio de descobrir é muito forte na gente. Não me converti, porém, ainda a nenhum sistema e hei de também ser prudente no que se refere ã fé que possa ter em tais fantasmas. […]
O “questionário psicanalítico” é uma tragédia que agora pude ver com meus próprios olhos. […]
Meu tempo continua dividido entre a construção da casa e os clientes particulares, de modo que o trabalho cientifico ainda não pode entrar no ritmo desejado. Dedico-me, em vez disso, a um ruidoso ciclo de conferências sobre psicoterapia, bem como a um privatissimum sobre psicologia freudiana para cerca de 10 pastores e 2 pedagogos a começar segunda-feira. Ademais, tenho 4 trabalhadores voluntários em minha clínica de pacientes externos. E essa azáfama toda, na verdade, às vezes pesa. […]
Cordialmente, JUNG
(p.271-273) Freud/Yung Correspondência Completa, IMAGO, Rio de Janeiro, 1976.