escorregando no domingo

Acordei cedo. Acordo cedo porque durmo muito cedo. E mesmo se não durmo eu me enfio na cama para que a noite passe mais depressa, nunca penso que posso preencher o tempo escrevendo, lendo, pensando. Ou vendo um filme. Acabo não vendo filmes nem televisão. Tenho sempre a preocupação de fazer o que preciso fazer, e antes vem a leitura, ou escrever. Tem um ANTES tão grande que só ligo a televisão se estou com sono. Então ouço notícias aterradoras e mais uns minutos desligo, não penso nada, e não faço nada, as notícias do que acontece assombram…

Antes de pensar em alguma coisa eu me enrolo numa manta qualquer e desço para o gramado com a Ônix, – ela é comportada e companheira, se não levo “se aguenta”, acho uma judiação não pensar nela primeiro, penso.

A ideia de escrever sobre um dia chegou enquanto lavava a louça, depois do café, depois de fazer mil pequenas coisas…

Abro todas as cortinas para o dia entrar. Vejo o amanhecer. Tenho muita luz, e toda a Serra do Mar, a Lagoa do Violão. Gosto de piano: hoje escolhi Mozart, – uma coleção antiga de Digital Classic, Piano Concerto número 26 em D major e repito e repito muitas vezes. Gosto de café preto, pão e manteiga, salame e queijo, e um copo d’ água gelado. Foi quando Luiza nasceu que enjoei do café com leite (sentia o cheiro da vaca no leite) É engraçado! …(bom tempo da vida na fazenda) Bebo este preto que não é forte. Hábito novo, e abraço a rotina … Volta inteira na lagoa, ou meia volta, mas caminho. O dia abre as portas. Em casa separo papéis, livros, abro caixa, e, …repasso a vida em foto, recorte de jornal. Lenta muito lenta: um detalhe, uma fita e já estou a lembrar ,e, … aquela vontade de dizer volta. Antes as mensagens do celular, responder, espiar, conversar com quem está acordado também. É preciso saber desligar porque uma hora duas horas podem passar nesta brincadeira. Aliás não se trata de jogo, mas de estar na vida, aquele virtual que faz parte do amoroso do fraterno da ideia de dividir estar/ participar.  Não sou organizada, sou inquieta, agitada. E faço mil coisas ao mesmo tempo, se não são exatamente quinhentas, são três ou quatro, duas… E já estou limpando aqui e ali, os travesseiros precisam de sol, as cobertas também. E vou aspirar o tapete, e sacudir os lençóis, lavar o que ficou para trás. Escovar, varrer pode ser tudo ao mesmo tempo. E sempre foi assim. Talvez o hábito deste matutino tenha se aguçado no internato. Não éramos obrigadas a assistir à missa diária, mas eu gostava e…

os cantos gregorianos e o latim sabia par coeur …o monástico sempre me atraiu, no ritual ao silêncio. É da minha natureza e fazer/ limpar/ polir e ordenar, sou assim. E tudo está na maior desordem. Estar no evento tanto quanto me isolar, servir, sou eu. Servir como ação singela e boa, o lado leve da vida seria estar à disposição do outro. Agora, vivo sozinha, mas sigo o ritual. Às vezes a mesa das refeições é especialmente cuidada: louça, guardanapos, talheres e cestas… Gosto. E como só tenho uma mesa grande, ela se faz escrivaninha, se faz deposito de caixas e papéis, lugar de frutas. As refeições com o colorido de mesa viva ; os potes de geleia, uma jarra, a frutas, livros e computador. No meu imaginário teria um pequeno vaso com anêmonas, ou margaridas ou até um ramo de hortênsias azuis. Mas não tenho flores dentro de casa, mas gosto delas. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2017 – Torres

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