Explicação…,seria tão fácil

Explicar? Não tenho explicações. Apertada entre palavras, não sei explicar. Eu também quero explicações…  Não sei por que morrer se viver é muito melhor. Por que adoecer? Por que o sentimento de perda, de abandono cresce e não diminui…  Quero explicações. Por que não posso usar sapatinhos vermelhos, ou seguir o coelho apressado? Sou empurrada pela vontade de viver, porque viver é muito bom.  Como dizer/ sonhar/ querer/ ser o que não posso ser? Sou como sou. Escorregadia, insegura, medrosa. Eu sei fugir/ acho que sei me esconder / deixar de ser eu/ representar/ escapar/ não dizer… Sou como sou. Imprevisível, desconfiada. Inquieta. Pois é, também eu quero explicações do inexplicável. O sentido de um dia chegar depois do outro, o sentido das lágrimas, das risadas. Sentimento contraditório excessivo.

A explicação ou a boa palavra, não tenho. Eu me perco nelas… Sou prolixa sou excesso sou menos. Hora errada.

A morte. A perda do que que não existiu,… Existe? O abandono se repete, volta a ser o centro…

O centro, exatamente, do quê? Não sei. Voltar a te escrever/ responder/ falar/ argumentar será outra vez uma ciranda. Os chineses colam a louça com filetes de ouro, e o mesmo pote (o pote quebrado) se transforma em um pote mais precioso ainda, e inteiro. Não sei colar cacos, não sou habilidosa nem paciente, não tenho ouro para fazer a cola. Não sei ter/ acumular/ esperar…,vou me desfazendo aos poucos de mim mesma para não ter saudade.  Nem de mim nem do outro. É um fazer desfazendo. Defesa. Proteção daquilo que possa ser um dia, e logo deixar de ser. Um jogo. A brincadeira cruel de esconder que mencionaste numa carta. Aquilo me acertou. Sou invisível. Apenas vou ficar invisível. E não sofro.  Desapareço. Não preciso dar explicações. Como morrer. Ninguém te avisa que vai morrer…,talvez porque não  se pode imaginar que vai mesmo morrer. Somos um eterno em juventude, esperança, somos mutação. Frágeis e finitos. Mas…, mas… mas, vivemos um hoje eterno. Sabemos que foi / é amor / poderia ser…, talvez, apenas no final. E o fim é quando acaba. O amor ou a vida o tempo a hora sei lá como explicar. Abandonei inúmeras vezes a coisa ruim, a hora difícil, a decepção.  Uma vez, menina, fiquei mais tempo do que era previsto na casa de uns tios…, um tempo que poderia ser para sempre. Não foi. Do Paraná voltei para o Rio Grande do Sul. Uma viagem de certo longa, ou de certo curta. Não lembro. Lembro outros detalhes. Perdi o ano escolar.  Também perdi o ano escolar porque não fiz a prova, o exame. Assinei, e entreguei em branco. Explicar? Não sei porque fiz isso, abandonei (sou boa nisso, virar as costas, e abandonar), anos mais tarde abandonei o magistério estadual, de um dia para outro. Tenho esta tendência terrível de enfrentar o problema sem palavras, sem explicações, abandonar o amor, o tempo, como de certo vou abandonar a vida, na boa morte. Sem saber, assim, fechando os olhos. E isso me assusta. Mas a minha vida não pode assustar a vida do outro, nem preencher, nem resolver. Faço o exercício porque quero/gosto de estar viva, e tenho medo. O luto deixa a pessoa seca, dura, triste. Depois que a minha mãe morreu passei muitos anos sem chorar. Já contei isso também. E quando meu pai morreu, três anos depois, eu ainda estava sem lágrimas. Acho que tenho chorado estas lágrimas todas ao mesmo tempo, hoje, agora. Não é trágico, mas um esvaziamento.  As lágrimas voltaram… E eu me escondo. Ninguém me vê como estou/sou por isso eu me conto. Estou invisível. E você me pede explicações. Não tenho explicações. Tenho o sentimento da derrota. Perdi uma batalha, mas ainda não perdi a guerra. Vencer é chegar dentro de mim, viver o sentido completo de ser livre. Desordenadamente, mas livre, tocar em mim mesma, acordar por mim, rir para mim, falar comigo mesma… antes, meu amigo, antes eu preciso de quietude, paz e silêncio. Não posso estar/ficar/responder/ compreender ou pensar o outro. Se eu pudesse ser “colhida” pelo amor como as margaridas do campo… ah! aqueles amores juvenis e perfumados que chamamos de comunhão seria tão fácil! Elizabeth M.B. Mattos – Torres, agosto de 2017 –

2 comentários sobre “Explicação…,seria tão fácil

  1. Belo texto que nos mostra os paradoxos de nossas vidas.
    A resposta é supostamente fácil ; É Assim!
    7 bilhões de pessoas dormem, acordam , vivem e morrem , Assim ! Tudo tem um final.
    A diferença está em aceitar , saber e poder viver e lutar e desfrutar os momentos que passam , pois como um rio que corre nunca a mesma água passará no mesmo lugar

  2. Às vezes não queremos, ou não conseguimos aceitar, … e passou/ o que estamos a viver/ a sentir já é diferente/ outra coisa a nos transformar, transformados transformamos ….

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