“[…], mas tinham acontecido coisas demais naquele dia para que eu conseguisse trabalhar, então liguei para Tonje e em vez disso conversei com ela por uma hora antes de ir para cama. ”
(p. 557) Karl Ove Knausgard Minha Luta 5 – A descoberta da Escrita
Uma citação sem importância, – não quer dizer nada, ou tudo. Quando coisas fatos ou o próprio fazer me absorve, não consigo pensar, ou sentir ou qualquer coisa, nem respirar. Muito menos trabalhar de verdade. Exatamente isso, não é possível respirar. E o som da rua se mistura com o som de dentro, e o que importa não acontece, – não vou escrever, nem fazer. E o dia já termina. …atravesso/pouso os olhos, (…) penso. Ele me disse: Tens o olhar da tua mãe e os olhos do teu pai. Estou enterrada no que ele diz/escreve. Uma frase, duas, sorrindo, ou inquieto. Penso apenas no que ele diz, hipnotizada. Estou levemente tonta, dor no corpo, como se os ossos se encolhessem, e os músculos se esticassem. E o corpo o corpo reclama sem poder me explicar/apontar o fato. O corpo, involucro mais ou menos ajustado ao meu eu. O corpo se sabe importante porque aparece… É visível, ele existe, ele está conduzindo. Quem eu sou quem eu penso ser não significa nada porque não resolvo coisa nenhuma, sigo meu corpo. E agora? Agora procuro, desesperadamente, uma identidade segura, produtiva, um encontro, um abraço. Calor beijo tato cheiro pele… Eu não sei se sei, e não sabendo mergulho. Estou dentro, estou possuída… O saber tem qualquer coisa de plano, de completo pacífico definitivo. Tão explicativo é o saber! Quando, não sei, uso de outros poderes: imaginação possibilidade expectativa romance fantasia sono. A loucura caminha perto/colada nesta ansiedade tensa de procurar. Se num dia acontece coisa demais, como diz Karl Ove, chega o bom e seguro nada/vazio, ou o completo. Ufa! Céus! Fiz tudo que estava previsto ser feito, agora vou correndo para o dia seguinte…Elizabeth M.B. Mattos – Outubro de 2017 – Torres