Escrevo apressada. Cartas não chegam, não sei…, explico inúmeras reticências: não concluir frase uma hesitação. Lacuna silêncio raiva azeda, represada. Para compreender o que está se passando preciso descobrir de onde a perspectiva está sendo fixada, como num mapa: se tu me dizes x eu devo considerar xy ou yxb. Se me aventuro a contar sonhos eróticos estarei povoando desejos. Limites do corpo não são limites da biologia. Uma parte minha está contigo em outro lugar. Assim o sentido de escrever se altera. Um fantasma, uma criação. Vou aquietar minha inquietação. Enterrar o desejo. “O amor, como diz Lacan, em última instância se refere a uma carência. Esta conclusão suscita uma pergunta. Se o amor do homem se dirige a uma carência, como podemos distinguir isso do amor de uma mulher? Afinal, vimos como a fraqueza ou a carência do homem são essenciais a ela. Como primeira resposta, podemos dizer que o amor em geral se dirige a uma carência. Onde o amor da mulher se distingue aqui está talvez ligado à ordem de casualidade: a carência do parceiro tem que ser garantida por ela. […] Os homens nem sempre insistem em ser a causa da carência da mulher, e quando lhes parece que podem estar assumindo essa função, é provável que desapareçam. Entram em pânico e fogem.” (p.99) Darian Leader Por que as mulheres escrevem mais cartas do que enviam? O livro me foi presenteado em Porto Alegre 2010. Na minha reorganização de estante e seleção eu o reencontro cheio de anotações e penso: embora o tempo o dia se apresse, o outono atropele, eu reconheço: sedução e desejo. Curiosa estranha fantasiosa permanência: presença agarrada nebulosa silenciosa dizendo… Elizabeth M.B. Mattos – março 2018 – Torres
Li e reli, absorvi e adorei a interessante perspectiva, numa indução logica, as carências suprem-se, chamem-lhe o que quiserem.
É uma conversa que faz bem, um chamado e um encontro. Bom que dizes, e assim, seguimos a escrever.