domingo de sol

Manhã gelada iluminada pelo sol que não aquece, festeja emocionado e pensa nos festejos reais do sábado. Estende a alegria da festa. Não por serem nobres e…, mas pela juventude do noivo inglês e da noiva americana. Iluminados, os jovens. O bom cheiro da juventude, pensa o sol. E se são anjos parecem mais belos ainda (mesmo na ilusão). Celebração do amor. Olhar terno de um para o outro. Disposição das pessoas que os cercavam, – e era um dia de sol. Mãos juntas. Amor de amar. E o sol comunga. Minha amiga: acho que esta conversa interminável pelo caminho de amar nos foi ensinada na escola, no exemplo. Sei lá! Acho que foi assim que o amor começou. O exercício de amor está em abrir as janelas, arrumar a cama, fazer a comida, ouvir música, escutar o silêncio: comunhão alegre com a vida. Sai de dentro deste fazer cotidiano o amor. Nesta oração direta com a vida ele nasce ele vive e ele morre um dia. Adoro flores no vaso, o sono demorado nos lençóis perfumados, no cheiro de limpeza, na grama cortada. O amor está no teu olhar. No café preto, no cálice de vinho, no chá, na comida, no gosto no cheiro, no toque. Todos sabem do amor muito mais do que imaginam. Estás um pouco distraída ou triste ou infeliz ou perdida, mas, logo, logo mesmo, acordas e eles os amados acordam também e amam. Irmãos são mais fáceis de amar explica uma amiga que me consola. Não, os irmãos são competitivos confusos nesta questão de posse e poder. Tropeço. As pernas ficam escalavradas os joelhos ardidos quando corro em direção ao amor. É tão fácil brigar jogar os pratos no chão gritar e bater as portas com raiva. Isso acontece num teatro mal-humorado. Amadurecer passa por um caminho de espinhos. No final eu termino/acabo por me enternecer (abraço inesperado, explica/ diz, um amigo amoroso: dá um abraço e surpreende) com o gesto malogrado com cheiro de desamor de uma amizade malograda. É tentativa, amiga. As pedras são jogadas com raiva, mas se dignificam em outro momento, antes de chegarem ao alvo. Sei lá. Há que aprender a perdoar. Perdão e amor caminham juntos. Como vamos mudar o mundo? Ou…,confusa estou, amiga, a procurar palavras certas, adequadas. Difícil tarefa me propões. O lugar mais seguro do mundo é/será/deveria ser entre irmãos, em família, mas quase sempre houve guerra/mal-entendidos/discórdia interna, brigas violentas, rupturas. É preciso costurar com a tal amorosidade necessária e terminar o desencontro, mesmo exausta, com as pazes do abraço. Perdoar parece ser a resposta certa, insiste André. Nada simples. Tudo confuso e complicado. Não sei o que te dizer. Amar o amor parece/ou pode ser o bom caminho. A flor o verde o mundo. O mar areia gente pessoas que se movimentam, ou se escondem, ou se lamentam…, tudo tem cheiro de amor. Se mergulho eu me dou conta que ali se esconde gentileza sorriso boa vontade doçura e liberdade. O amor tem que ser livre solto sem amarras ou exigências, apenas amor. Tenho a sensação que cada vez que abro a mão e o pássaro voa sinto amor. Amo a jornada o vento e a certeza de que sem prender sem exigir sem aparente sofreguidão sigo em estado de amor. Esta continuidade esta certeza aprisiona e liberta ao mesmo tempo. Está diluída a liberdade que aprisiona. O desejo de amor é instante, um átimo, uma pequena generosidade, um alento e pronto, fica para sempre.  Mesmo no mergulho na nostalgia (na perda). A gaiola com porta aberta…, mas me deixo ficar escrava, eu sei, mesmo com janelas e portas abertas. É exigente o amor. Às vezes pesado, difícil e … amar me parece complicado, mas eu tento. Tento todos os dias. Acho que até sufoco porque estou sempre carente querendo mais e mais e não respiro. É preciso respirar. Não existe regras exercícios nem respostas. Sabes o que eu acho? Penso na essência do amor e encontro alegria. Alegria, alegria espalhada por tudo. Estou a te escrever sem pensar, mas tenho quase certeza que é na alegria/da alegria. Colado nela, o amor, a gentileza, a voz, o corpo e o sexo (quando amor entre amados). A carta não respondeu a pergunta, e me inquietou. Volto a te escrever. Vou pensar. Vamos para o sol deste domingo gelado, mas amoroso. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2018 – Torres

[…] o amor é o dom de tornar visível o invisível e o desejo de sempre sentir o invisível próximo de si.” (p.158)  Orphan Pamuk – Meu Nome é Vermelho

“[…] Aquele olhar doloroso queria dizer uma só coisa, que todos os aprendizes sabem: o tempo não passa, se você não sonha“. (p.492)  Orphan Pamuk –  Meu  Nome é Vermelho

Então eu sonho. A cada amanhecer abençoo o sonho de sonhar com você. Aquele você adormecido dentro de mim. E penso nos passos silenciosos da tua visita noturna. Sinto o beijo roubado e a tua mão no meu corpo. E a doçura do teu olhar no meu olhar. Então eu sonho. Elizabeth M. B. Mattos

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