John Updike derrama o melhor do que foi o movimento de arte moderna: “O momento, o momento histórico, a explosão, quando tudo se juntou e Nova York substituiu Paris, e pela primeira vez na história os Estados Unidos lideraram o mundo em matéria de arte.” (p.19) ” A maioria das pessoas não fazia ideia de que uma coisa maravilhosa estava acontecendo. Não sabiam que estavam vivendo um momento especial. Ainda estavam pensando em Picasso, em Miró e nos surrealistas. Dalí, não – esse e Benton todos desprezavam, eles representavam tudo aquilo que a gente odiava.” (ver um artista se vendendo daquele jeito!) (p.25) IR além… Esquisito como precisamos nos recriar a cada momento. Deixar para trás a dor ou a decepção e agarrar uma nuvem, uma ideia nova. Entrar outra vez no que é tangível e possível. Sacudir a tristeza, redescobrir o gosto da vida, a alma. E não marcar mais a madrugada. “ Sua suscetibilidade em relação à beleza, disso Hope sempre soube, (acho que eu também sempre quis me descolar da beleza, de perseguir a beleza para encontrar o fazer / o trabalho, e no final beleza, – é verdade – o artista fica colado na busca de fazer/produzir) foi o que a tornou uma artista menor. Os grandes (e eu penso em Iberê Camargo) vão além da beleza, desprezam a beleza, tal como os santos do deserto desprezavam as visões de luxúria e luxo: é assim que o Demônio oferece o mundo como recompensa.” (p.28) ” Zack conheceu Siqueiros, e aprendeu com ele a fazer toda aquela bagunça, a trabalhar com as novas tintas industriais, a ideia de protesto social ou lá o que fosse, tudo muito bagunçado e novo,”( p.29) […] “muitos deles ainda estavam ligados à velha esquerda. Acreditavam que tinha de ser possível uma sociedade melhor do que esta, em que um terço dos homens estavam desempregados e os ricos andavam de cartola falando mal de Roosevelt. A guerra sufocou tudo isso. Mas a coisa não acabou; continuou existindo de modo subterrâneo, a necessidade de uma revolução. Passou para a arte. O esforço de guerra implicava privações, mas a vida de artista também.” (p.31) Todos os grandes movimentos interiores, o amor inclusive, exige privações e uma boa dose de fé, entrega. Então, se não estou pronta escapa, escorrega por entre os dedos, e me dou conta que estou esvaziada. “[…] havia ali uma magia infinita, abrangente, e também uma espécie de protesto (quero tudo diferente do que está acontecendo) protesto que levava as pessoas a tentar catar pedaços de um mundo sempre a escapar de seus dedos; o mundo era uma linha de montagem que não parava de despejar produtos numa pilha de coisas perdidas e esquecidas. Junto com a atitude de protesto havia uma felicidade, a felicidade das pequenas vitórias no desafio feito ao tempo gerando coisas para serem guardadas.” (p.33)
John UPDIKE – BUSCA O MEU ROSTO – tradução de Paulo Henrique Brito. Companhia das Letras, 2005.
Não me perdoo dos beijos que não dei, do corpo inteiro que não senti. Azul da imaginação. Cada vez que eu me esforço para te reter, invento. Tens asas no sorriso, nos teus passos. Não te esqueço. Derramado despudor deste meu amor amado, amando. Beth Mattos – maio de 2018 – Torres