amor

 

o amor não espera

 

 

 

Será verdade? Você acha que é meu perfeito contrário? Só sei que quando evoco você à noite, na cama, sinto o sangue fervilhar no meu corpo com a velocidade da luz. Tenho evitado falar do quanto você me fascina sexualmente, com medo de ser rejeitado. Mas agora vejo que você, também, é vulnerável, e sinto que posso contar. Quero vê – la reagir às minhas carícias. Quero sentir sua pele contra a minha. Sentir seu suor e o gosto do sal no seu pescoço. Esquecer tudo, menos sua presença. Nunca tinha sentido desejo de verdade até você chegar … e por isso ora lhe agradeço, ora a amaldiçoo. Temos que achar uma forma de ficarmos juntos, ou entrarei em combustão. Duvido que algum dia eu consiga expressar o quanto amo você. Griffin”  NICK BANTOCK

O CAMINHO DO MEIO

Onde termina a Extraordinária Correspondência de Griffin & Sabine (16 de nov)

nas caixas

Mundo Grande (Carlos Drummond de Andrade)

“Não, meu coração não é maior que o mundo, é muito menor. Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar. Por isso me dispo, por isso me grito, por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias: preciso de todos. […]

A vida coloco nas caixas. E umas sobre as outras se fazem montanha de segredos. Abertas as tampas saltam fotos, textos, passado, sorriso e lágrima. Dentro delas o cheiro da terra, do mato, do sonho, do  papel. Quero que venhas destampar as caixas. Ordenar o tempo: passado presente e …, não quero ver o futuro. Quero esta manhã aberta a entrar pela janela. Quero todas as manhãs. Quero de volta o tempo que me espreita inquieto e aflito para passar. Bizarra pessoa sou eu. Desajustada, espremida, desmaiada de tristeza e alegre como menina. Beth Mattos – maio de 2018 – ainda Torres

foguetes em Recife

Foguetes excitam e assustam. Beleza e perigo. Mencionas as festas juninas? Boa quente terna lembrança de meninos ansiosos/corajosos/ protegidos. Tu a mudares o mundo, eu no meio do caminho. Preciso conhecer este mundão que se revira, assusta e deslumbra. Desejo manso e fantasioso de  inverter e transformar. Colorir a lógica. Recebi as cartinhas da Beth, aquela Elizabeth apaixonada. Preocupação, ou pretensão? A vida me deu boas sacudidelas, ora o precipício, ora a salvação, ora o nada na solução casual. De definitivo: filhos. Tivemos inferências diretas, tu e eu.

Sempre cartas. Cartas pontes. Conversas íntimas. Obrigada por tê – las guardado. O tempo ensina/mostra: a possível intimidade está no corpo no beijo no abraço no olhar,  e no aperto de mão. No sexo ele mesmo. Sem toque se flutua como balão. Ou se extravia no ar. Ou na fantasia pronta a ser engolida no primeiro refluxo, na primeira volta. Ou seja, nada existe. Leio a síntese da vida daqueles anos (tu na Amazônia, eu no internato) da tua ausência. Lembro São Francisco de Paula. O jogo do dicionário. Das brincadeiras na casa de Ipanema.  Quantas voltas dá a vida. Neste Recife não faz calor. Quente úmido, estranho. Estou concentrada no abandono da cidade antes capital. Ciclos. O luminoso se perde no descaso. Estou entre prédios buzinas vozes e o cinzento. Não fui, ainda, ver  Francisco Brennand. Arrasto meu humor e amoleço, mas estou cheia de vontade de percorrer a Oficina, vontade menor de ver o tal castelo do irmão Ricardo. O Capibaribe me parece o maior rio do mundo, do meu mundo. Eu me debruço na janela. Um beijo, e claro, a saudade existe.  Elizabeth M.B. Mattos 16/05/2017

P.S. Tenho que colocar ordem no caos. E não posso sublinhar expressões amorosas. Ou surtos de saudade, ou dependência do papel, ou um do outro. Estamos fora da realidade. A cada um seu pequeno /grande universo. Ser sozinho é ruim / péssimo. Complicado, mas dois, neste momento, seria precipício/abismo. Não sou não és lobo solitário: temos o mundo em ordem. A ideia de apaixonar desarruma. Está tudo virado. Do avesso.

MULHERES NUAS de Brennand

“Você é uma alma delicada, sensível, penetrante. Tudo aparece com clareza nos teus textos. Pode parecer que você quer diluir sentimentos, tentar explicar para você mesma o que aconteceu ou acontece. Mas, não, é um suave langor sedutor. Permissão entre as dobras do destino e do querer. Extremamente excitante.
Na carta, você reclamou de minha agressividade. Para mostrar isso, eu que era aprendiz de dissimulador dos sentimentos, para você, só pode haver uma possibilidade: ciúme.
Não gostei. Queria uma reserva para mim, eu acho. Depois segui meu caminho, como da ordem natural das coisas, naquelas idades.”
E.A.C.

tatuagem

Obsessiva nas arrumações. Dispersiva memória a flutuar sobre isso ou aquilo. Memória de lembrança. Anistia de tempo. Olho no passado. Alguns recortes. Leio jornais. Não, não sou eu a encontrar citação: a citação me atropela / insiste em se apresentar esparrada, impertinente. Livros invasores a me perseguir. Descabidos, arrogantes e histéricos. Ou seriam esquizofrênicos? “Nikki, quais são suas primeiras palavras? Diga para mim. O quarto de criança que ela voltou, num extremo está o quarto de criança; no outro, Paris – o primeiro, um lugar impossível de reaver, o segundo, impossível de controlar. Ela foge da Rússia para se esquivar a fim de se esquivar das consequências do seu casamento desastroso; ela foge de Paris a fim de deixar para trás o romance desastroso. Uma mulher em fuga da desordem. Em fuga da desordem. Em fuga da desordem Nikoleta. Mas ela carrega a desordem consigo – ela é a desordem? Eu era a desordem. Eu sou a desordem[1]

Mágica a cada página em branco. A estória verdadeira atrapalha pesa, e assim mesmo não me devora, então invento outra para disfarçar. Na caminhada matutina a dar voltas, e voltas, voltas ao redor de mim mesma até ficar, levemente, tonta. Sento no banco da praça a lembrar que não sou Nikki, nem Philip Roth, e tudo o que faço/ produzo é o/um ensaio exaustivo de ser eu. , … eu mesma eu mesma, a mesma que desaba nesta aba de roseiras. Atravesso o incrível deserto: a memória.

Quanto tempo fiquei a pensar naquela tatuagem, … estico o braço e vejo carretel fio e aquela audácia festiva. Paris ficou em Paris. Atravessei apressada preocupa pegando o trem para Limoges, o destino. E estava, assim mesmo, em Paris no verão daquele julho completo e  quente. Inteiro e meu. Penso nos gatos que ficaram a entrar e sair pela basculante, talvez não me esperem. Aliás, ninguém espera por ninguém: apressado viver antropofágico/ mágico.

Pensei encontrar biblioteca e livros cheios de remissivos. Tracei a pesquisa no mapa de quarenta dias. A pintura autobiográfica numa biografia possível através das cartas trocadas por 30 anos. Desenrolar os carretéis de Iberê Camargo, e pelo fio desenhar um autorretrato possível também meu: penso na estratégia. Volto para Henry Miller penso Anaïs Ninn.

Cheguei a Domme. Entrei no Hôtel L’ Oustal de Vézac no meio do vale, com um castelo em cada ponto cardinal. Um sobre Feyrac, Beynac, Marqueyssac e Castelnaud.

Preciso chegar a Rocamadour. Não posso esquecer Rocamadour. E todas as referências se misturam, atravessam as páginas lidas, e todas as que adivinhei sonâmbula. Beth Mattos maio 2018

Não trabalhei como deveria ter feito. Apenas me derramei no francês, e voltei a Rocamadour. Beth Mattos – maio 2018

[1] Philip Roth – O Teatro de Sabbath – Companhia das Letras – tradução de Rubens Figueiredo (p.235)

 

artimanha

Não preciso tocar.

Já és meu nesta

forma imprecisa,

Precisa e certeira.

Atravesso teu corpo. Atravessas o meu.

Sedução: veneno mortal.

Nem perfume nem peso nem gosto, nem tato.

Silenciosa ausência amorosa.

Presença constante.

 

Se o tempo voltasse e me despejasse no colo arrependimento dor e tristeza. Mágoa e perda eu pediria encantamento alegria, ou apenas teu amor. O que eu diria se o tempo voltasse? Responderia: quero tudo igual, tudo igual e o mesmo, eu quero apenas mais tempo senhor tempo. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2018, ainda Torres.

 

 

trabalhando autobiografia – pedaço de história / março 2004

DESENHO INTERESSANTE RECORTE

Balonismo depois do furacão Catarina que assustou, assombrou Torres. Fui demitida da galeria Garagem de Arte no dia primeiro de abril, e não era uma piada. Engasgada gelada assustada avisei filhos, irmãs, – faço o registro do medo, mas logo pensei: novos tempos novos rumos. De certa forma atordoada assustada, mas livre (havia escravidão peculiar a servir/ter chefe e metas a cumprir) então, estava, desavisadamente, aliviada, e sem rumo. Agora conto a história de ser marchand em mar aberto … sigo o rastro deste recomeçar, ainda outra vez, tantas vezes recomecei. Sair das cores. Da magia, da vida de amigos pintores, colecionadores, artistas. Por algum tempo toquei na luz. “E o tempo também caminha – até que se percebe logo adiante uma linha de sombra avisando – nos que também a região da mocidade deverá ser deixada para trás”.

Voltei para casa, para dentro de mim mesma, desertei da vida porto-alegrense, e me perguntei, e agora? Dar as costas para aquele mundo foi um ritual de passagem. Conheci o paraíso de ser eu mesma depender apenas de mim. E depois, cheguei ao inferno do medo.

“Mas eu não senti receio. Eu estava suficientemente familiarizado com o Arquipélago por aquela época. Paciência extrema e extremo cuidado me levariam através desta região de terras quebradas, de ares tênues e águas mortas até onde eu sentiria enfim meu comando balouçar nas grandes vagas e inclinar-me com o grandioso sopro dos ventos regulares, que dariam a ele a sensação de uma vida mais ampla, mais intensa. A estrada seria longa. Todas as estradas que levam ao que o nosso coração almeja são longas. Mas esta estrada meu olho mental podia ver num mapa, profissionalmente, com todas as suas complicações e dificuldades, mas, ainda assim, bastante simples de certa forma. Ou se é um marujo ou não se é. E eu não tinha dúvidas de que era um deles.” (p.58) J. Conrad Linha de Sombra

Como eu me senti quando cheguei a primeira vez na galeria? Não sei dizer, mas Joseph Conrad soube explicar:

[…] “,eu sabia que, como algumas raras mulheres, este navio era uma daquelas criatura cuja mera existência é suficiente para provocar um prazer desinteressado. Sente-se que é ótimo estar no mundo que ela habita.  […]. Meia hora mais tarde, pondo meus pés em seu convés pela primeira vez, fui possuído pela sensação de profunda satisfação física. Nada poderia igualar a plenitude daquele momento, a integridade fantástica daquela experiência emocional que chegou a mim sem preliminar fadiga e desencantos de uma carreira obscura.”

Eu me desligara da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) com a ideia de me aventurar em Belo Horizonte, pois é, uma vez tive esta enlouquecida e amorosa ideia de ser mineira, e comecei a tecer planos que se desfizeram diante da morte de Sonia Maria (minha amiga mineira, e o tal namorado, um engodo). Foi tão estranho e doloroso! Tudo se enrolou numa rede de fantasia, e de repente, não era mais nada para ser daquele jeito. A morte é definitiva; sinal de limite. Estranho! E minha vida tem estes sinaleiros, anjos, ou faróis a mostrar o caminho…  Não, este lugar não te pertence, nesta ilha não podes descer, este homem não podes ter. Este jardim não é teu. Foi sentimento, encantamento e magia a galeria. Lentamente o amor cobriu o espaço inteiro. Fico hipnotizada pelas esculturas, pelo trabalho. O mesmo sentimento de pertencimento que senti com os alunos do Colégio da Providência no Rio de Janeiro. Um passo e já fazes parte. O encanto da chegada, e depois a demissão. Posso lembrar dos dois dias. Carteira de Trabalho assinada e aquele podes ir emboraHoje, agora. Vais receber o que é preciso/teus direitos. Foi simples assim. E a vida tomou outro rumo. O imprevisto. O gozado e o estranho: eu sabia que alguma coisa tinha mudado, e tinha a tal moça rondando. Não foi surpresa, foi previsível, mas não me impediu de ficar chocada. Sair e dar as costas, ir embora. Ao manejar o veleiro de Conrad e levantar a cabeça, – faço uma leve analogia com o curso da vida em determinado momento (assumir a galeria primeiro, e ser demitida de supetão), é como estar em grande tempestade, mas não se pode desistir, ao contrário, é preciso ficar mais forte, mais destro, mais corajoso. É preciso assumir e agarrar a vida. Eu nunca pediria demissão, não ia fazer isso comigo. Eu já tinha abandonado o meu concurso do magistério no Estado num gesto de rebeldia e prepotência. Eu já tinha sido gentil e tolerante. Eu já tinha usado da humildade. Eu já tinha sido Beth, agora eu era Elizabeth, não contestei naquele momento, contestaria mais tarde, no momento certo. Contenção de despesas foi a boa explicação.

Eu era ainda suficientemente jovem, estava ainda demais deste lado da linha de sombra, para não ficar surpreso, indignado com tais coisas. ”

Eu teria que recomeçar. Retomar. Eu ia começar outra vida, como Isabel ou como Liza. Tinha sido contratada no dia 10 de julho de 2001. Saída efetiva na Carteira foi no dia 5 de abril de 2004.

Havia no ambiente uma estranha tensão que começou a me deixar incomodado. Tentei reagir contra esta vaga sensação. […]

No rosto daquele homem que eu julguei ser muitos anos mais velho que eu, tornei – me consciente daquilo que já havia deixado para trás — minha juventude.  E isso isto era realmente um parco consolo. A juventude é uma coisa maravilhosa, um poder incrível — enquanto não se começa a pensar a respeito. Eu senti que estava começando a ficar consciente de mim mesmo. Quase contra a minha vontade assumi uma melancólica seriedade. ”

Reencontro com Joseph Conrad – A Linha de Sombra: (The Shadow Line) – Uma Confissão. A lembrança deste meu período em Porto Alegre se mistura. A dança com todos os ritmos. Posso ainda fatiar o que me aconteceu. Contar de morar outra vez em Petrópolis, da Praça das Nações, das idas ao cinema, dos pequenos jantares, da visita da Nádia, daquela morada que tinha um encanto especial. Da energia de voltar a andar de ônibus. Do dia que as Torres Gêmeas caíram em Nova York, e pensei ser ficção. Do gosto de ser livre e depender, afinal, apenas de mim mesma. São muitas histórias que cobrem estes anos de voltar a Porto Alegre. Elizabeth M.B. Mattos –  Trabalhando autobiografia –  Porto Alegre – março 2004 Páscoa

Tina Zappoli a responsável pela indicação para a gerência da Garagem de Arte / rua Luciana de Abreu, Porto Alegre. Imagino que hoje seja apenas uma loja que vende sapatos!

A minha relação com a Tina nasce da amizade que tínhamos com Iberê Camargo. Ela era a marchand oficial do artista. Nesta ocasião eu fundava (com ajuda de Iberê pude montar uma exposição em Santa Cruz do Sul com a presença dele) uma galeria de arte na velha Estação Rodoviária de Santa Cruz do Sul, Irene e eu fomos cedidas do Estado para nos ocupar de/com eventos culturais na Capital do Fumo. Com ligações diretas com artistas, levamos exposições importantes. A genial Edy Lima, com  suas As vacas Voadoras foi uma das escritoras que esteve na Feira do Livro direto de São Paulo. Josué Guimarães abrilhantou nosso evento. E não vou citar todos. Moacir Scliar. Acho que tenho guardadas algumas colunas – notícia de jornal, assinadas por mim. Eu sempre rabiscando.

Meu primeiro trabalho foi no Jornal Feminino (do Canal 12 ) de Célia Ribeiro, como apresentadora, mas também ali ganhei um espaço para uma coluna de livros. Éramos uma boa equipe, – eu tinha dezoito anos. Elizabeth M.B.Mattos – maio de 2018

Bonito

Le tendre et dangereux VISAGE de l’ AMOUR

Histoires – POÈME de Jacques Prévert

Le tendre et dangereux

A terna e perigosa

visage de l’ amour

face do amor

m’ est apparu un soir

surgiu / me pegou numa noite

après un trop long jour

depois de um dia bastante longo

C ‘était peut-être un archer

Talvez um arqueiro

ou bien un musicien

ou mesmo um músico

avec sa harpe

com sua harpa

Je ne sais plus

Eu não sei

Je ne sais rien

Eu não sei nada

Tout ce que je sais

Tudo que eu sei

c´est qu’il m ‘a blessé

É que ele me tocou/feriu

peut – être avec une flèche

Talvez com a flecha

peu-être avec une chanson

Talvez com uma canção

Tout ce que je sais

Todo que sei

c’ est qu’ il m’a blessée

É que ele me tocou/feriu

blessée au coeur

ferida no coração

et pour toujours

e para sempre

Brûlante trop brûlante

Queimando queimando

blessure d´amour

ferida de  amor

recorte de um dia

Acordei cedo. Acordo cedo porque durmo muito cedo. E mesmo se não durmo eu me enfio na cama para que a noite passe mais depressa. Penso que posso preencher o tempo escrevendo, lendo, pensando. Ou vendo um filme. Acabo não vendo filmes nem televisão. Tenho sempre a preocupação de fazer o que preciso fazer, e antes vem a leitura, ou escrever. Tem um ANTES tão grande que só ligo a televisão se estou com sono. Então ouço notícias aterradoras, e mais uns minutos desligo, não penso nada, e não faço nada: as notícias assombram.

Antes de pensar em alguma coisa eu me enrolo numa manta e desço para o gramado com a Ônix, – ela é comportada e companheira, se não levo “se aguenta”, acho uma judiação não pensar nela primeiro, penso.

A ideia de escrever sobre um dia chegou enquanto lavava a louça, depois do café, depois de fazer mil pequenas coisas, quando eu me pergunto: e agora?”Estrada seria longa. “Todas as estradas que levam ao que nosso coração almeja são longas.” Beth Mattos

jambo com luz flor e reflexo paty

cansaço físico

A liberdade não está ao alcance, ao alcance das mãos, da cabeça, mas solta na alma. Não domino sentimentos que me afastam, ou aproximam desta ou daquela pessoa (fico confusa). A natureza de ser/ter/ estar se altera no cansaço físico, mas também por dentro …  Escrever sobre eu mesma, ou como sinto, enxergo ou me vejo, ou formatar um dia em palavras. Difícil, abstrato embora descritivo. Um exercício. Volto a um velho texto de um velho livro: “Existem numerosas espécies e gêneros de hortaliças, porém todas, segundo nossos princípios de classificação, jazem no lodo. Crescem aí e aí são colhidas. Batatas, tomates, chicória e nabos. Seres não – humanos e seres humanos. Alterando a analogia, poder – se – ia dizer que vivemos vidas que estão encaixadas desde o nascimento à morte. Desde o ventre de que nascemos à caixa da família, da qual progredimos para dentro da caixa da escola. Quando saímos da escola, já nos tornamos tão condicionados a viver numa caixa, que, daí em diante, erigimos própria caixa, uma prisão, um receptáculo em nossa volta … até que, finalmente com alívio, somos introduzidos no caixão ou no forno crematório. ” (p.35) Davis Cooper, – Psiquiatria e Antipsiquiatria, – Editora Perspectiva, Coleção Debates, São Paulo 1967 . Livros respondem, perguntam e acompanham, então cada um guarda nas páginas em branco o segredo de cada leitor. Respiram no mesmo ritmo. E escutam os telefonemas da madrugada. Elizabeth M.B. Mattos – abril 2018 – Porto Alegrefotos de todo tipo

velha amizade

A mente esquece, o mundo muda e as velhas amizades seguem. Mornas, suaves e profundas como o mar.”2 de maio de 2018 DAvid Coimbra2 de maio de 2018 Coimbra mais uma foto

Bilhete memória fragmento. Fico a pensar no peso de cada vontade…, ou aproximação quando a geografia afasta. Engasguei na leitura. Nuvem negra: tenho  guardada, e me escondo nela indecisa medrosa. Gostei do que escreveu David Coimbra. O amigo virtual segura minha mão e atravessa a nuvem. Agradeço. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2018

cartão carmélio meu nome

Volto no tempo para me confortar com boas lembranças. O passado um alicerce. Valorizar o caminho/jornada para chegar na Beth de hoje. Não posso me esconder no que foi, também não devo temer o que vai ser amanhã. E nem escamotear o hoje.  1964 -Carmélio Cruz, fez meu retrato: aquarela. Dois anos depois, um óleo sob tela.Beth Mattos

carta com rosascarmélio noticia 1965.jpg

da poesia

 […]

Mas não há nada mais poético do que as coisas reais e concretas. Adoro a poesia de um abraço, de um beijo amoroso e apaixonado, ou a paixão de um prato bem servido ou o perfume da boa cozinha. Poesia concreta mesmo. Não aquela que assim foi chamada, mas nada concretizou e tão só “concretou”. Aquela era poesia “ de concreto”. A nossa, poesia concreta. A do abraço, do aperto, do afago. A poesia que tuas cartas descrevem com nitidez, profundidade e extrema beleza. A poesia irreprodutível numa cartinha fac-símile quase pública. Acho que só conseguirei chegar aí no final do mês, ou início de julho. Irei de carro. Aviso-te com exatidão nos próximos dias.

N a  inesperada intransigência o conforto do passado.  No vazio ou na falta o alimento interior. De dentro. A espera vem de dentro. De dentro. Lembrança empilhada. Mansa terna amorosa. Maio molhado pela chuva que se sacode cantando alto. Hora de pensar inverno e aconchego. E.M.B. Mattos – 2018