DOGVILLE, excelente! Um alívio! Salvação no extermínio. Não existe ponderação nem generosidade no mercado de relações. Conselho pode ser entendido quando a outra pessoa quer ouvir ou quer ver. O filme é duríssimo, e necessário. Cada ser humano está na sua própria ilha, a exclusiva. Cego surdo para toda e qualquer evidência que não seja sua própria escolha, e ou território. Estranhíssimo! Como se pode tocar, beijar, amar ou estreitar relações nesta cegueira? Borges era lúcido, Sábato diz bem em seu Informe dos Cegos, Saramago esboçou a questão. Coetzee alerta para o extermínio. DOGVILLE faz a síntese. Tenho ido ao cinema. Vejo tudo. Ainda não vi Terra dos Sonhos. Vou assistir.
Estou a te escrever apressada, antes que alguém entre …, e agitada. Após o susto e a tensão depois de um sequestro com arma enfiada na barriga, pressão daquele abraço criminoso …, o frio medo incerteza. Embora repitam que não machucar. Sou refém. Converso com o rapaz para acalmá – lo, estou imóvel, não precisa apertar o cano do revólver.
A coisa esquisita pode voltar quando me surpreendo com ruídos. Ainda não aprendi a atirar. Quero me voltar e descarregar o revólver. Os barulhos/ruídos voltavam. Pressinto que voltarão. Medo. Fico gelada. A casa tem vários patamares, como se fossem quatro andares. Pelo pequeno sótão. A janela basculante do banheiro ficou aberta … Entraram. Eram Três ou quatro. Sobressalto. Gavetas abertas, reviradas, armários esvaziados: lenços, perfumes. Exorcizei. Aquela Liza elegante sofisticada sorriu … O relógio de colete do vovô, e a corrente. A caneta Cartier. …, os lenços de seda! Por que nominar? Vestidos. Casacos. Comecei a rir das lágrimas. Levaram duas roseiras. Tiveram tempo. Bebidas e panelas. Toalhas bordadas. Uma gaveta cheia de guardanapos com monogramas deixaram. Copos e garrafas. Levaram as bandejas. Porque te conto isso? Não fiquei mais pobre, apenas desenhei novo personagem. Recolhi cadernos, lápis e papelada. Coloquei tudo numa caixa. E me atirei no sofá. Uma coberta um travesseiro. Fechei as portas. Acendi o fogo na lareira. Depois de esgotar o choro dormi. Elizabeth. M.B. Mattos – 20 de fevereiro – 2004 – Santa Cruz do Sul


