“Fico lhe devendo essa, não sabe como lhe agradeço. Fica me devendo a história, mais tarde […] sim, mais tarde – disse eu, e pensei que talvez já estivesse devendo a muita gente, contar uma história em pagamento de uma dívida, ainda que simbólica ou não cobrada, ninguém pode exigir o que não sabe que existe e de quem não conhece, o que ignora que aconteceu ou está acontecendo, e portanto não pode exigir que se revele ou que cesse.” (p.123) Javier Marías – Amanhã, na batalha, pensa em mim
E porque as histórias não podem ser contadas se apimentam, e se apertam em conversas idiotas, constrangidas dentro de outras histórias incontáveis, proibidas. Gaguejantes, ou confessionais. Espremo entre uma risada e outra, uma explicação idiota, ou uma observação mais descabida ainda porque, afinal, … não quero dizer nada do que disse, ou do que penso, ou sei. Não fui ao cinema, não terminei nenhum livro, cansei da fuga de Salman Rushdie, e sei que sobreviver não é viver quando amor não é paixão, e sei também da preguiça, da nostalgia enfiada na lentidão do dia, e na inquietude úmida deste londrino cinzento torrense. Tenho pressa. Que a noite chegue noite, depois sinto medo de te esquecer, que seja logo de manhã e … Sim, eu me agarrei nesta não história obsessiva que me emprestaste, confessional, irreverente. E em todas histórias que deixei para viver depois, depois e depois, não aconteceu, ou como neste livro: imprevisto, impremeditado, ou inevitabilidade. ‘Não procurei, não quis.’ Ou quando as coisas saem mal. Fico pensando o que significa mesmo sair mal. Deixar de acontecer? A vida tem aquele caminho florido certo absoluto que segue ao temporal, tufão, furacão. No entanto, tu sabes, eu sei como foi/ ou o que deixou de ser: eu te vejo. Tem um café na rodoviária, no aeroporto, um beijo, um avanço ou um recuo. Na verdade, tem a droga do tempo e da idade e da memória que nós dois não perdoamos. Elizabeth M.B.Mattos – Torres – 2018 e, a bem da verdade, não tiveste medo. Nunca tiveste medo, nisso eu te admiro.