de Iberê Camargo e Flávio Tavares
1.
Cada vez que imagino ou penso/quero contar a história do amigo/ escapo, ou me atrapalho. Amigos importantes, especiais: positiva, mas dispersiva, eu sou. Iberê Camargo, por exemplo, conheci no Rio de Janeiro. Rua Muniz Barreto, Aliança Francesa de Botafogo. Era lá que fazia meu intensivo de francês com M. Gadiou. Naquela pequena sala de eventos, logo na estrada da casa de pedra, a exposição de Iberê. Iberê morava no Rio de Janeiro, na rua das Palmeiras. Os carretéis começam a surgir nas telas. Nesta época eu assinava Elizabeth M.B. Moog. Maria Camargo também conheci naquela tarde, intervalo da aula: cafezinho e conversa. Botafogo. Na esquina a grande loja SEARS. Perto das férias / logo estaria em Torres: o verão. Trocamos endereço, estabelecemos a ponte, e a visita ao atelier ficou para março, quando eu voltasse para o Rio. Prometi escrever. Ele também. Segue a primeira carta. Uma amizade que se firmaria: quarenta anos.
” Querida Elizabeth: Recebi a tua carta. Vejo-te à beira do mar. Enche, pois, as tuas mãos de mar, enche os teus olhos de luz. Na minha lembrança, tu és uma presença. Eu perdi o jeito de correr pelas praias e de me misturar com os peixes. Faz isso por mim. De Torres guardo este fragmento, por certo o mais agreste, o mais autêntico ao pé do penhasco, o mar enrola-se como uma grande cobra verde. Ao longe ele é sereno. A distância da placidez da cousa. Tenho produzido pouco ou nada. Espero melhores dias. Mando-te a minha saudade que é muita. Afetuosamente, O Iberê – Rio,28 de janeiro de 1975 “
2. Conheci Flávio Tavares na casa de Iberê Camargo, os amigos se despediam. Entre amigos e tanta emoção. (1994) E o inexplicável. Meu amigo Iberê se despedia. E nos entregou seu original de contos. Flávio e eu começamos a trabalhar neste livro de memórias. Seria publicado em 1989. Gaveta dos Guardados: houve polêmica, depois eu conto. Editora da Universidade de São Paulo.
