É bom ir para poder voltar… Quando me movimento o desastre. Exagero nas pitangas; atravesso a casa com pés molhados. E o prazer? Vê o mar, brincar, estar nos braços de Artur, conquistar o Sérgio com batida de banana, leite e chocolate ou bifes com batatas fritas? Brincar com os meninos: fileiras de carrinhos pelo chão, passeio com bicicletas, beijar mais o João. Ou tricotar com ponto aberto, agulha grossa, linha fina, para render manta comprida. Colher as pitangas do vizinho com escada, encher potes depois de pular o muro, fazer geleia. Esperar o genro com almoço. Olhar, olhar muito, olhar bastante para eles todos. As tardes, todas, inteiras, só para mim. Cheiro do mar. Os cães, chá e outro chá. Sestas longas, e livros para ler. Comprei papel de carta! Ninguém mais usa o correio, os selos. Desordenadamente passo os olhos pela casa na intenção de fazer alguma coisa útil. Ser minuciosa e dedicada, mas sinto preguiça. Ordenar os livros nas estantes? Quem sabe organizá-los por temas, ou sentar para ler… Pego um, largo, abro o seguinte, leio um pouco feito passarinho picando fruto doce. Não é leitura, pura ambição. Quero contar em detalhes o que faço, responder ao que escreveste. Quero que saiba que estou de volta, e que vou tentar outros empregos, outro jeito de arrumar a vida. Agora volto ao O morro dos ventos uivantes. Releitura. Beth Mattos – 1999 – Torres
“Ambos estavam sentados, perto da janela, cujos postigos se achavam encostados à parede, e por onde se descortinava, para além das árvores e do jardim e do parque, selvagem e verdejante, o vale de Gimmerton, com uma comprida linha de nevoeiro, que se enovelava nas extremidades nas extremidades […]. O Morro dos Ventos Uivantes se elevava acima daquele vapor prateado, mas nossa velha casa estava invisível, mergulhando no cenário.”(p.92) Emily Brönte / Editora Abril -1979