anjo e demônio

sem palavras

justiça emparedada pela corrupção,

criminosos seguem atuando,

e se dão as mãos para combater o mal / o inferno…

abre o céu / o azul / a limpeza / a lucidez

demônios ameaçam com pontos, vírgulas, pausas

decência virou estranheza

 

nada declarado, tudo insinuado

esta mineradora (caída em desgraça), outro fenômeno, bandeira absoluta de certeza nas apostas da bolsa de valores, despencam, despencam

 

o homem luta pelo correto / tribunais julgam / sublinham,

e de repente, o acusado o corruptor diante de ‘um vazamento’

estranha ideia: outro lado da moeda

o bem e o mal

a luta pode ser arena / o homem aos leões

diversão: plateia no deleite,

choramos. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019, em Torres, sem eclipse

 

escorregando na escada, um pequeno solavanco

Tão logo penso ‘nestas coisas que não existem’ elas passam a existir. Tenho vida sentimento racionalidade tato olfato amor raiva desprezo ignorância, ciência na cabeça no meu corpo robótico. Uso ou não, disponho ou não, acesso ou deixo adormecido. Como os ‘excluídos do amor’ aqueles que apenas, não foram acionados, e permanecem mecanizados a fazer/ agir focados em outras tantas coisas que não o prazer erótico do corpo. Tudo registrado, mas nem tudo possível nesta miríade de vida, a nossa / a tua / a minha. Ou seremos mesmo eternos, a reencarnar e volta, ou a viver noutra galáxia noutro tempo? A girar revitalizados. Sendo e voltando / morrendo e revivendo…

Poderíamos? Talvez…

Armazeno. Coleto. É assim? Não te respondo. Não tenho respostas. Escorrego pelos livros, salto páginas, eufórica, depois adormeço, os olhos abertos… Urgente a vida! Tão agora! Não há tempo para dizer ou pensar, temos um pequeno agora / um hoje.

Descasco uma laranja de umbigo, enorme e doce. O hoje se resume em chupar laranjas e estrelar  na vida pequena o recluso.  Não tenho respostas, meu amigo! Estar perto com os olhos nos teus olhos seria o perfeito, alegria completa. Mas tu e eu não podemos, não queremos, e não faremos o possível.

Constrangedor texto: Excluídos do Prazer (ou Quem são os excluídos do prazer?, no título provisório que eu dei) foi escrito noutro tempo, noutro pensar, antes, muito antes de pensar corpo e prazer e sexo. Na carta para Paulo Hecker Filho eu o integro ao Amoras. Do que os amigos pontuam após leitura de Moldura sem Retrato: […] “misturas, em alguns textos, a descrição detalhada de ambientes e de pessoas, com conteúdo forte sobre sentimentos e passeios e sobre a vida. Alguns bem fortes, outros mais amenos e todos são ótimos, cada um na sua posição. Juntos, ao passar de um título para outro, as vezes parece, como que, se está escorregando na escada, um pequeno solavanco, depois me acostumei. Como sou de textos curtos, por inépcia própria, gostei de ver os enlaces que fizestes.”(A.C.L.) Eu respondo: gosto demais quando diz/escreve: ‘escorregando na escada, um pequeno solavanco’. Preciosa avaliação sobre o que escrevo. Obrigada. Cada palavra estímulo um agrado. O prazer me aquece, eu o sinto perto / amigo / como se os olhos estivessem mesmo no meu olhar e a voz nos meus ouvidos. Afinal estes prazeres/ estes retornos / estas palavras me abraçam. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres

 

Livre-Arbítrio em tempo nublado

Difícil questão.  Sim temos Livre Arbítrio que / acredito, mas (sempre as mesmas coordenadas adversativas: mas, contudo, todavia) há um toque incerto de que exista / ou possa ser livre. Tudo fica mais por conta do destino designado. Resposta confusa.  Existe escolha e livre arbítrio tanto quando fatalidade na história que se repete, indefinidamente porque não aprendemos a lição… Fátua / destino despótico, ou caminho aquilo que “já está escrito“. Outra pergunta colada: existe reencarnação?  A vida é este minuto e depois o nada? Existe outro planeta habitado? Existe Deus, posso ponderar / ou o mundo / o cosmos ou sou eu que escolho caminho/ atalho ou desvio? E até que ponto minha escolha humana é / foi / será limitada e consequente? O suicídio traz uma resposta? A reza fervorosa e a piedade me salva?Perguntas  difíceis, inóspitas e complicadas. Acredito que posso lutar conscientemente e decidir. Até onde sou consciente… Até ao ponto que conheço / assumo o Livre Arbítrio. Em que situação real tenho escolha, ou a decisão com todo o poder do que chamo Livre – Arbítrio? Resposta final. Não sei.

Tenho um tempo de vida / de espaço a ser vivido e muitas vezes virado do avesso, estranho e perigoso.  Edu, muitas vezes, a soma desta inquietude e explicações confusas chega com o descaso ao Planeta, descaso com as estrelas, com outros mundos, com nossa própria vida… Dos 50 anos que nos conhecemos, quais foram nossas pedras marcadas, e quais as escolhidas, e quantas não conseguirmos sequer levantar com as mãos, nem caminhar sobre ela? A resposta se dilui no cosmos.

Revirada Terra de Sonhos, revirada inteligência, reviradas expectativas. E se penso  a velha Inglaterra instável nas sua controvérsia ( minha ignorância), e pergunto, o que há por trás da riqueza americana (que desconheço)? Não sei. Não há nada. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres

A liberdade, a democracia, o trabalho, o engenho inventivo, a perseverança, tudo é para obter – o quê? A felicidade nesta vida, a salvação na outra, o bem, a verdade, a sabedoria, o amor? Os fins últimos, que são os que de verdade contam, porque são os que dão sentido à nossa vida, não surgem no horizonte dos Estados Unidos. Existem, mas são de domínio privado. As perguntas e as respostas sobre a vida e o seu sentido, a morte e outra vida, confiscadas tradicionalmente pelas Igrejas e Estados, foram assuntos de domínio público. A grande novidade histórica dos Estados Unidos consiste em tentar devolvê -las à vida íntima de cada um. […] O bem comum não consiste em uma finalidade coletiva ou meta-histórica, mas na coexistência harmoniosa dos fins individuais.” (p.45-46) Octávio Paz Tempo Nublado

Estranhos caminhos ando/caminho, como posso eu saber se tenho absoluta liberdade de ir / ficar / voltar e decidir, modificar ou até melhorar o meu canteiro de begônias? Se nunca visitei o mundo com meus olhos, minhas percepções, apenas divago… Limitado / pequeno e inquietante ser humano  este que se movimenta no planeta. Penso. Nada sei meu amigo, fico a tatear, a testar meus limites. Até meus amados. Fica o meu obrigada registrado por deixares  tua /minha palavra se misturarem e agitar o nosso círculo, nossa energia.