FORA DO CORPO: fragmento
Tenho aquela ideia de que todos estão perfeitamente perfeitos nos lugares onde estão: alimentados, sem sono, aquecidos, sorrindo. Não quero ser necessária, quero ser transparente, mas no fundo, lá dentro a questão é mais séria: gostaria de poder me enxergar no centro, mas não sou o eixo, sou o galho que começa a vergar porque não consigo seguir o fluxo. Perde-se o hábito de querer o amor. Desisto de desistir para desviar, terminar para encontrar, recomeçar, a solidão chega como o fim do papel, com a ponta do lápis quebrada, o livro com ponto final, o copo vazio. A solidão pesa com o próprio peso do corpo. Fica tudo invertido. Nem um cálice de vinho, depois outro, pode resolver. Nem o banho de mar, nem o sol. Nem ressuscitar o amigo, a coragem, nada modifica este estranho vazio. Elizabeth M.B. Mattos – 2012 – Torres
MAGDA FRANCIOSI – “E com o passar dos anos esquece de dizer que as mulheres, principalmente, se tornam invisíveis para os olhares masculinos e até aos femininos também… Isso no começo, incomoda, depois se acomoda…”
Eu: – Será? As pessoas não ficaram invisíveis aos olhares, não. Os olhares, cansados, deixaram/esqueceram de se olhar, não só para as mulheres, ou das mulheres, ou dos homens… Acho / penso que desapareceu este tempo / tempo de parar no olhar, ver passar. Nem mesmo para ler! Ou pensar. Quem está na janela vendo o tempo passar? Chico Buarque? As pessoas perdem tempo ao espelho… O Império da BELEZA é exigente. E as meninas todas se parecem, e os jovens todos se parecem, e os velhos, os velhos que agora vivem mais se esquecem de ser velhos. Não há doçura em nenhum olhar. E.M.B. Mattos