O avião chegando. Expectativa. Saudade. Alívio. Vou ao teu encontro. Aperto teu corpo, respiro. Sinto naquele abraço o tamanho do desejo, tua falta. Como posso ser ambivalente? Tantas vezes retornarei aos teus braços. Teus cabelos tão crespos, cheios! Teus olhos rasgados, inquietos. Tua boca engolindo meu corpo, aos pedaços. Teu rosto oriental, exige servidão. Estás dentro de mim neste abraço fechado.
O avião desce. Alegria ferve. Teu olhar me procura. Meus/teus olhos em nós.
Tuas perguntas as minhas. Estabeleço prazos e tempo. O ciúme sai devagar, cabisbaixo. Não me importa quem te beijou, quem te abraçou, o que fizeste, pensaste, quando não estamos/estávamos juntos. Estou no beijo. Estás lá / aqui, exatamente, como eu te imaginava e estás no meu desejo. Esperas por mim, espero por ti. Levo presentes em linho, branco, macio nos lençóis. Outro perfume. Livros não comprei.
Teus braços pesados, magros, cansados, teus braços. Malas cheias de inverno.
Carrego sempre tantas malas! Quando saio, quando vou, quando voo dizes sorrindo teu azul! Tudo volta ao teu abraço. Onde estavas – amada – na noite de 28 de agosto? Liguei tantas muitas vezes e não te encontrei. É bom voltar para casa! Tenho tantas coisas dentro de mim que só posso resolver dentro de nós! Ele sorri. Abraça bem forte o meu corpo. Eu o inundo de saudade e, agora, sem ansiedade, alegria me afoga e me salva! Eu o amo! Depois segue dizendo / falando: Careço dos teus afagos. Apago lembranças. Respiro. Nós dois apenas: nossas falas, cumplicidade. Estou nas tuas conquistas como estás na minha vida. Amo teus medos e tu meu desespero. Amo o teu espanto. Tua história branca de sombra no meu caminho, fêmea. Amor afável. Matrimonial. Quero dormir abraçado no teu abraço de vinte anos cansados.
As janelas do quarto, cerradas. O barulho na rua, dentro do apartamento, não ouvimos/ nem escutamos.
Onde estavas naquela noite de 28 de agosto, daquela segunda-feira?
O abraço. Um abraço. Nosso abraço. Falo. Digo / eu explico. Suspiro. Outro abraço, um beijo, outro beijo, nas faces, entre as mãos.
Meu cheiro, agora, teu. E nem quero mais saber onde estavas naquela noite de 28 de agosto! Estamos. Vou continuar estando. Oxalá o vento de ventar se interrompa. Quero amor branco. O amor abre outro amor. Filosofa feliz. Aqui ou lá? Juntos: o meu, o teu amor. Posso sorrir sem responder. Será que volto pra morrer nos nossos braços, abraços? Estou sempre na mala, retalhado. Ao teu lado eu sou eu. Longe não somos. Não sou eu, não és tu. Já não me importa nada onde estavas na noite de 28 de agosto de 1995.
Acordamos tarde, os dois. É sábado. Jornais e café. Conversas enfiadas. Avanços, novos projetos. Dormimos abraçados e acordamos apertados. Tua voz aguda. Discutimos. Paramos. Submisso, sem ferir, sem magoar. Tenho culpa? Nenhuma. É um pacto, um acerto. Sobrevivência. Nada sei das noites brancas. Nem dos filmes. Dos livros. Do trabalho, da amiga. Uma viagem, mais uma? Não sei. Começo a rir, sorrir, um bocejo. Levanto.
Quem sabe um telegrama. Não, hoje não; nem amanhã, tampouco segunda-feira. Talvez na quarta-feira ou sexta. Sábado o aniversário: quarenta e nove! Não. Não vou pensar… Preciso tempo. Escrever, esvaziar o ciúme. Como? Não sei. Enquanto espero o tempo me ganha / segue atrás daquela porta. Estás mais magra. Por que pesa o teu olhar? Sombra cansada? Guarda teu ciúme. Volta para nós. Ama em mim o outro homem, e amarei em ti todas as mulheres. Segura minha mão e fica. Quero teu corpo, teu sexo. Gosto de te sentir/ver despudorada: sem roupa, sem pejo. Teu andar, teu sentar. Veste tuas meias, estica a tua perna. Escolhe o sapato, caminha. Teu joelho! Saia bem curta e blusa justa! Senta outra vez ali. Elizabeth M.B. Mattos (revisado em novembro de 2019 – Torres em movimento porque o feriado se alonga em surf e beleza!)