Ele. Jean Giacometti volta no tempo, na marca: a escultura, o desenho e a palavra. O físico. Guarda-se o prazer de posar, de ser pensado, de conversar de estar para sempre arte. Então eu posso compreender o prazer.
” Todo homem terá talvez sentido essa espécie de pesar, se não terror, ao ver como o mundo e sua história se mostram enredados num inelutável movimento que se amplia sempre mais e que parece modificar, para fins cada vez mais grosseiros, apenas suas manifestações visíveis. Esse mundo visível é o que é, e nossa ação sobre ele poderá nunca transformá – lo em outro. Sonhamos então, nostálgicos, com um universo em que o homem, em vez de agir com tanta fúria sobre a a aparência, não somente recusando qualquer ação sobre ela, mas desnudando -se o bastante para descobrir esse lugar secreto, dentro de nós mesmos, a partir do qual seria possível uma aventura humana de todo diferente. Mais precisamente moral, sem dúvida.”(p.11) Assim escreve Jean Genet – O ateliê de Giacometti – precioso volume / livro com fotografias de Ernest Scheidegger numa edição da Cosac & Naify
E o escrito faz referência ao agora hoje, no entanto como ontem, sempre. A arte eterniza o pesar, o grosseiro e as manifestações visíveis… O nostálgico sonho de agarrar o amor amável se despedaça. E qualquer palavra esticada para te alcançar soa inútil/falsa. Escutas apenas a tua própria voz. O medo te consome na inquietude escondida de não estar/não ser/ ou colecionar vidas. Não sei se teremos outra, ou se já vivemos e o colchão macio das encarnações nos afunda. Não hoje então, nem nunca. E a brincadeira do corpo se desfaz inútil. Somos prisioneiros da imaginação. Nunca estivemos / nem fomos / nem seríamos amigos porque nossa humanidade é invisível. Sinto raiva neste equívoco. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2020