Penso em coisas e fatos: os que aconteceram, e os que deixaram de acontecer – pedaços amarrados na lembrança da memória. Nem todas as coisas de nossa vida são lembranças: nós nos esquecemos, e dentro do esquecimento recriamos, temos fantasia na memória: sobrevivência. Enquanto remexo no tempo procuro definições, esclarecimentos. As pessoas…quem tem as respostas?
Aconteceu uma coisa boa para mim, não sei se eu cheguei a te contar, tão rápido nosso encontro! Conversei com o Nonô, um pouco antes do transplante, um acaso. Ele foi me ver na galeria. Foi engraçado! Percebi o homem bonito, espiando. Sorrindo! E tudo o que sempre vi nele estava ali. Tudo. Tu compreendes? Fui ao encontro e conversamos, saímos juntos pela rua 24 de outubro, nos sentamos nas muradas dos canteiros, e continuamos conversando até a sua mãe chegar. Tão depressa! Aquela repassada no tempo! Tão importante!Pensei que voltaríamos a nos ver. E por que não o acompanhei até em casa, ou marquei nos rever logo. Por que estou sempre amarrada num cotidiano de fazer automático, tão insipiente! Por que insisto neste ritmo Porto Alegre? O cotidiano será a consciência de sentimentos corretos?
Por que ele ficou no tempo? Por que não tivemos tempo? Ele morreu um mês depois. E nada… As fotos que queríamos ver não vimos, o tempo que nos pensamos juntos, escorregou. O importante nos dissemos, não adianta lamentar. Foi um rasgo! Não voltamos a nos ver… Fiquei com a dor. Estas pessoas, as nossas pessoas, começam a tomar outras formas… E perdemos um pedaço a cada despedida. Elas definiram/definem são o que importa. Sentimento estranho/ esquisito! Vou voltar para a cama.
Tu já pensaste nisto? Todo o dia arrumado/pronto como deve ser aquele dia. Será perda de tempo este fazer mecânico… Já pensaste nisto? Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2020 – Torres, a resgatar os escritos passados. Reescrito ou relido….27/5/2004 01:30:12