Olhei para ele: estava mais velho, mais velho que ontem ou antes de ontem do que poderia ser envelhecer. A roupa desleixada, mas o olhar não era triste, nem infeliz, nenhuma gota de amargor. Nos braços o pacote, também flores, e a correspondência. Dois livros. Agradeci. Em casa preparei um chá. Não tinha fome. Nem vontade de folhar uma revista, olhar pela janela ou. E a televisão? Talvez eu fosse uma das poucas pessoas que não assistiram um filme nesta semana, nada. As notícias entram pelo rádio. Um velho hábito. Estou cansada. Fisicamente dolorida, o apartamento estava sujo, então eu limpei devagar: urgente, amanhã termino. E poderia ser diferente, sigo pensando. Poderíamos todos envelhecer devagar aos sorrisos. Os cravos e as rosas no vaso e o perfume se mistura com o aramo das goiabas. Lembrei que a mãe detestava cravos. Talvez por serem amassados e tantos tingidos, ou porque deveriam ter enormes canteiros de cravos em Guaíba. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2020 – Torres e agora chove