GOG de Papini – escavando

Tens razão neste ir e vir ficando no mesmo lugar. Detalhes de um grande/enorme vazio. Na verdade um ponto, um texto. E todos juntos, a vida. Variantes ou limitado?  Tela preta, um ponto branco, pode ser nada, ou o começo. Um bule de chá vermelho pintado. E a descrição…, o começo. E nada. Tens razão. Parece ruim, mas nem tanto. É o olhar sob o objeto, sob o texto, ou perdido. Afirmações na entrevista de Philip Roth com O’ Brien me fizeram pensar, e te escrever. A leitura é uma das voltas… Como ir ao baile de fantasia todos os anos com a mesma fantasia… E nunca o mesmo. O livro. Ou ir ao baile trocando a fantasia, o autor. Nós diferentes e os mesmos. Confuso. Que bom teres escrito!

Hoje vi o filme francês Entre os Muros da Escola: impressionante.

Voltei (entrar na história/estar no meio da emoção/ doer junto faz parte) estupefata! A imigração, a integração na vida do outro, adaptação cruel… Violenta, cruel é a palavra certa. Todas as adaptações se assemelham… Como a banal relação de homem e mulher: nem sempre falamos/dizemos/temos a mesma língua, a comunicação, os princípios: há que encontrar o ponto comum para começar… Adaptar, retomar referências. Encontramos barreiras, às vezes, intransponíveis como mostra o filme, e também soluções e leveza ao final da batalha.

Não somos diferentes. Tu e eu nos sentimos menores porque não temos o resultado em cifras, o dinheiro importa sempre. Sabes o que encontrei dentro do livro GOG de Givanni Papini?  Nove mil cruzeiros… Dinheiro das aulas de francês em Santa Cruz do Sul. Naquela época acuada pelo mau casamento eu trabalhava para poder ir embora. O preço foi maior do que todo o dinheiro que consegui guardar e o que perdi: deixei enterrado naquela casa juventude, alegria. Levei comigo coragem. Não sei quanto em valor perdi, quantos reais… E o quanto tenho deixado para trás. Com pouco dinheiro consegui sair da casa, daquela vida. Um preço. Sempre estamos etiquetando. Tens razão, eu estou sempre a me colocar na liquidação. Os outros são os melhores resultados. Repensando a vida e na outra: carros, casa, restaurantes, etiquetas. Eu sigo entre o quarto e o quarto. Não contabilizo, ainda. Assim mesmo, ao te escrever, eu me sinto ótima. Por quê?  Está amanhecendo. Acho que as pessoas que admiramos tem melhores preços, lucros. E talvez sejam melhores do que nós ou não. Mais felizes…  Como escreves: No fim somos nós mesmos. E diferentes. Não sei se melhor ou pior. Apenas diferente. E sem dinheiro parece que não saímos do lugar – e vive-se a supervalorização do dinheiro como medida de boa vida.

Se morássemos numa cidade de pescadores… Numa ilha: pescaríamos, entraríamos no mar, dormiríamos na rede… Seria como o homem que ascende o farol… E acordaríamos com o sol… Parece igual, mas não é… Outras pessoas atravessam ruas, enfrentam o trânsito, comem às pressas, olham e conversam com as mesmas pessoas, equacionam e resolvem outros problemas… Nós pescamos o peixe. Para eles não basta o peixe, querem o peixe limpo, cozido… Trabalham de sol a sol para comerem o mesmo peixe. Dificuldades e escolhas diferentes.

Existe a grande história, o grande romance, o sucesso ou o fracasso na ponta da vida…

Adaptação sufoca. Somos todos sobreviventes. E sabemos que não tem pote de ouro pra pegar no fim da rua, não na nossa rua…Todos os dias já, já dia vencido. O tempo atropela…

Ainda não compreendi a diferença entre comprar o bule vermelho porque é belo (beleza, aliás, q só eu percebo), e comprá-lo como utilitário, para fazer a infusão? ou ainda não comprar, apenas ficar desejando…Esta coisa de não valorizar o fazer. Enfrentar os mesmos problemas num tempo determinado de tempo, não toda uma vida do mesmo jeito… seria simplificar demais, a questão da circular. Acorda! As vitrines, não têm todas, os bons produtos. Parece, mas não é… para saber isto, e nos dar conta precisamos conhecer…, absurdo, mas antes de ver, saber. Acho que tu tens apreendido muito sobre qualidade.

Eu te amo. Como vês pela hora, perdi o sono. O filme me agitou… Tanto quanto o livro do Roth… Um beijo. Beth / Elizabeth M.B. Mattos

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s