Temos uma balança interna que mede a vida: a energia entra e sai. Quem está perto capta o positivo, e o negativo. Busco energia nas plantas: mexer, remexer. Converso com elas: pobres jasmins escravizados, limitados por vasos… Como pássaros em gaiolas, sem quintal… Noutra escala, nós somos também domesticados por limites. Sem vontade própria: somos o que os outros esperam que sejamos… Como as plantas, os pássaros nos adaptamos para sobreviver.
Olho o verde, escuto a música, e tento acalmar minha inquietude enquanto te escrevo.
Paradoxalmente temos que entender a cidade que nos aprisiona: as escolhas erradas, ou certas são internas, perigosamente nossas. Compreendo o que sentes, vejo como tu, esta cidade que paraliza, mas exercito o olhar, namoro jacarandás e paineiras. Caminho todas as manhãs pelas ruas do bairro abastecendo a casa com frutas, pão, busco o cheiro do café energizante que já fizeram as cabras saltitarem vivazes… como conta a lenda… E posso sentar por uma hora ou duas nestas mesas que ocupam as calçadas. Retomo a cidade ainda vazia, mas sempre verde. Entendo que pode sorrir, ou abraçar. A cidade. Por que somos estranhas? Ela é maior do que nossa percepção, ou nosso quarteirão. Os limites são internos, nossa a rebeldia. E o cheiro do mar traz nostalgia. Saudade de antes, do que já tivemos e não conseguimos segurar. Porto Alegre das ruas estreitas, arborizadas, com pefume de terra. É preciso sair do lugar, ousar, ou morremos presas ao ninho. Possuímos amarras. O dolorido da situação é que assim como queremos voar, ser novos/outros, nos sentimos presas ao ranço do lugar conhecido, presas ao familiar, e frágeis para grandes vôos. Sucumbimos.
É preciso livros, filmes…vontade, determinação. Fazer o espetáculo acontecer. É preciso olhar e sair do palco, soltar as amarras.
E tu, minha pequena, tens o amor, o beijo, o aconchego, o vinho quente de uma noite em concha. Sinto falta de um par. Das noites/conversas, e dias com o amado… Com ele, apenas estar, era bom… Que aproveites a vida! A irmandade enriquecedora. Assim, Porto Alegre pode ser o mundo inteiro, basta abrir os braços, e fazer acontecer lá dentro de nós mesmas a transformação… Acho que me prolonguei. Como chove! Fiz uma boa limpeza nos vasos, e nas plantas. Varri a sacada para esperar a chuva, e como!E como! Gosto. Sinto um pouco de frio… Elizabeth M.B. Mattos – 2005 – Porto Alegre
Que texto gostoso Betty, que remexe com todos nós. Que bela capacidade tens de expor o que te vai dentro no momento e em tantas outras vezes. Maravilhoso, abarca uma questão que nos atinge a todos: quanto somos nós, quanto somos os outros. Este bucolismo de Torres, está conseguindo tirar de ti o que tens de melhor, não pára por favor. Bjs
Nilton! Não imaginas como eu me sinto aquecida quando te aproximas e deixas uma palavra. Sabes, lembras o quanto tenho prazer em escrever, e na leitura, mas precisa ser compartilhado. Novos prazeres quando conseguimos falar/tocar o outro. Obrigada por deixares teu comentário.