Não existe entrega definitiva, sem volta: curva e tropeço. O mais ou menos claro/ ou nebuloso, que eu possa ter de quem eu sou atravessa a cruel incerteza de amar para sempre. Se eu me submeto, já enterro o meu sonho, e começo, inadvertidamente, a ser parte do outro…, e, logo / imediatamente eu me pergunto onde estou (geograficamente ou fantasiosamente), numa viagem de muitas chegadas / e tantas despedidas. É justo na NÃO entrega que se pendura o amor. Eu te espero. Não há passivo / ativo, quando o mapa do Eu fica indefinido, vou me transformando em sombra…, sombra aprisionada. Se eu o feri ao me afastar, ao te abandonar, também não deixei de me ferir e sangrar. Eu não me reservei a pior parte, mas, inquestionavelmente, faço parte deste abandono deste poema. Se eu te abandonei hoje, posso voltar amanhã, mas não tenho certeza… Não reservei o melhor para mim, nem o pior: somos parte deste desencontro. Se fracassei em lhe dar apenas felicidade, fracassei comigo mesma no grande amor para sempre (não li os contos de fada, fiquei no pedagógico e mágico momento do beijo). Ao te abandonar eu me senti infeliz com a possibilidade do rancor. E infeliz. A minha ansiedade te atormenta. E te seguir me parece tão pouco! Impasse.
Há um peso no ar, uma dor aguada que o vento leva porque é primavera. Como será ter apenas certezas? Transfiro dores e inseguranças e as palavras se enterram para florir. Elizabeth M. B. Mattos – outubro de 2020 – Torres
A vida pode ser adiar… É tanto depois, depois. E o tempo se esgota. Foi assim te amar. Foi para ser depois…
