[…] “vi livros destinados destinados a equilibrar a perna manca de uma mesa; conheci – os transformados ]em mesa – de – cabeceira; dispostos em forma de torre e com pano por cima; muitos dicionários aplainaram e prensaram mais objetos do que as oportunidades em que foram abertos, e não poucos livros guardam, dissimulados nas prateleiras, cartas, dinheiro, segredos. As pessoas também mudam o destino dos livros. […] muita gente queimou livro […]. Haviam- se tornado notoriamente perigosos. Entre eles e a própria vida, as pessoas escolhiam, transformadas em seu próprio verdugo. Livros que haviam sido longamente estudados, discutidos, livros que tinham despertado paixões, compromissos irrenunciáveis, e distanciado velhos amigos, subiam ao céu transformados em cinzas de carvão que se dissipavam no ar. […] As relações da humanidade com esses objetos resistentes, capazes de atravessar um século, dois, vinte, vencer se se quiser, a areia do tempo, nunca foram inocentes.”(p.75-76) Carlos María Domínguez A casa de papel
Assim fazer a tal necessária seleção quando estantes não tem mais espaço e o espaço empoeirado enlouquece se torna o inferno do prazer, não se quer parar, interromper, nem entender. A cada volume o arrepio do tempo, da página lida, e daqueles que ainda, pacientes, nos esperam: hora de reclamar a finitude. Esta doente e incrível e mágica e intensa relação desespera. Não sei onde começa nem termina a relação. É, definitivamente A Linha de Sombra como bem descreve Joseph Conrad. A loucura da leitura e da releitura. Como viajar, passear, na mesma rua, na mesma cidade, no mesmo sentimento. Inacreditável contínua sensação: prazer e gozo. Um beijo se segue ao outro, colado, intenso, lento, e violento, eu me entrego, sem reservas. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2020 – Torres