intensidade possível

1.

Sendo primavera a beleza explode. Depois a ventania carrega pétalas e esparrama pelo gramado. Corre de lá para cá, mas, assim mesmo fica mais tempo imóvel do que o esperado. Eu me pergunto do pensamento: desdobrado em quantas intensidades possíveis? Cabelos embaraçados pelo vento! O avental, como se pudesse proteger o vestido quadriculado em dois tons de sol. Vejo a barra branca que bate nas suas canelas. Está descalça, e os pés embarrados… Talvez esta menina seja eu mesma, desconcertada com sentimentos embaralhados.

Foto de Ana Maria Moog

2.

Onde está a fronteira entre o sonho e a memória? Alguns autores conseguem desenrolar a história dentro da reflexão como se nada estivesse emaranhado. Segue-se o fio e as ponderações. E a leitura escorrega… Yukio Mishima, um mestre.

outubro de 2020 / foto de Ana Moog

No passado, Honda gostava de falar sobre os dias que vivera com Kiyoaki.” (p.10) Cavalo Selvagem

No passado o amor pode ser uma tarde no escuro da matinê, um pacote de balas Jujuba. Caminhar até em casa. Conversar conversa nossas: aula de história, recreio da quarta-feira. Músicas. A última reunião dançante. Jogo de vôlei, joelhos esfolados. “Mas à medida que o homem envelhece, a lembrança da sua juventude começa a agir como uma verdadeira imunização contra futuras experiências.” (p.10) Envelheço sob protesto. Agarro boas memórias. Escondo as péssimas. No balanço semanal, mensal desta contabilidade, concluo: sempre estou na linha de batalha. Acredito, nem sei o porquê acredito, a solidão devastadora aperta, nunca se desfaz, alimenta (eu suponho). Estar com o outro, na minha vida, foi acreditar em soluções, não no amor. Ah! Como eu me sinto, especialmente, cruel. A voz da comunhão abafa a própria sobrevivência, e me julga/aponta como uma pessoa má. Quero estar no éden, ou naquele lugar que se nomina paraíso, mas arder no inferno parece o normal. Desencontros essenciais à massa do bolo, não importa se é de chocolate, nozes ou morangos. O prazer se esconde em detalhes insignificantes! Ou nas frestas do sol, do vento, da chuva…Ou seja, se esconde na respiração. Não é tangível, nem claro, nem tátil: sobreviver. O esforço de saltar/sair da caixa em que me acomodei, onde escondi as vergonhas… Peço ao diabo a tampa e lhe rogo: use pregos. Não adianta a solução. Eu uso a imaginação, músculos, a reza. O tempo se alonga. Gosto da vida do jeito desencontrado que se apresenta. […] “imunização contra futuras experiências” escreve Mishima. Crescer na caixa traz/faz/ dá sérias lesões, deformações precisas, e até conceitos de defesa. Então, eu vou ser feliz do jeito que eu sou. E a eternidade estará amarrada no momento, neste hoje de primavera, de flores fotografadas, de mar, de pedras, de mar, de luz, de pedras, e afinal, de amor. Fico a ler Mishima com um prazer doente de tanto prazer, tanto transbordamento: […]” – uma idade em que a pessoa se sente estranhamente despreparada para dizer que já viveu, mas reluta em reconhecer a morte da juventude. Uma idade em que o sabor das experiências se torna um pouquinho amargo, e dia a dia se sente menos prazer nas coisas novas: uma idade em que o encanto de cada diversão logo se desvanece. Porém sua devoção ao trabalho o protegia contra as emoções. Honda se apaixonara por sua vocação, estranhamente abstrata.” (p.10, ainda) Yukio Mishima-Cavalo selvagem

outubro de 2020 – Ana Maria Moog

3. As notícias de JORNAL

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