Acordei cedo hoje! Dormi cedo. Hora errada, pobre da Ônix!, esquecida na varanda-canteiro alarmou o prédio, e CÉUS! Como responder e agradecer e pedir desculpas? Revolução. Fechei janela e apaguei a luz, dormi outra vez. Dormir: passar o apagador num quadro de giz. O livro terminou. Estou naquele período intermediário, sem vontade de fazer limpeza / ordem, ou qualquer coisa prática. O tempo? Estranho! Um novembro frio. Sinto a garganta. Espero não me resfriar. E me enrolo nas mantas. Talvez chova, talvez fique apenas cinzento. Pessoas caminham nas calçadas, dia começa. Amanhece. Liguei o rádio. Arrumei as camas. Passei o café. Esquentei pão. Nada de regime. Quero emagrecer: ao longo do dia me concentro na dieta, mas amanheço com pão e manteiga. Automático. Vício. A geladeira, coitada! Cheia, lotada! Como se aqui vivesse uma família inteira. Não. Sou apenas eu: gulosa e compulsiva. As frutas pintam a casa, dão toques de vida e cor e ainda perfumam… Viver em sabor de chocolate, a doçura de ser amado / amada / acarinhada. Céus! Preciso organizar e fazer e ter e ser e começar e fazer/ e fazer e fazer… Alugo uma casa e alugo um jardim, planto roseiras e cravos e crisântemos. Pequena fantasia. Estica na janela: olhar perdido! Eu a vejo se movimentar, penso na Mabel e no Bento, por que não estou numa casa? Com árvores, jardim, cheiro de mato e vida nova… Vida nova. Será o mar o bruxo do tempo! Preciso arrancar memória, passado. Depois transformo em jardim sem inço, sem rosetas, apenas jardim… Outra vida. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2020 – Torres
