“Como era estranho ter uma impressão tão misteriosa, porém tão distinta, de já ter estado ali! Talvez isso se relacionasse a uma experiência real. Talvez quando criança seus pais o tivessem trazido àquele lugar. De qualquer modo, sentia que a forma daquela casa se preservara perfeitamente em seu coração, como um jardim pequenino mas cheio de detalhes, envolto em bruma.” (p.120) Yukio Mishima Cavalo Selvagem – Mar da Fertilidade vol.2
Talvez o único lugar definitivo de minha vida tenha sido perto/junto de meu pai e de minha mãe. Não sei bem riscar / determinar. Se quando criança, ou jovem – mãe ao me socorrerem de inquietudes. Se do tempo dos desenhos aleatórios de um Rio de Janeiro triste que eu vesti / pintei de alegria. Não existe lugar seguro. Todos podem ser tenebrosos e incertos. Infância seria o bom país, mas escutamos/sabemos das barbaridades / insanidades que ocorrem. Depois, depois sem pai e sem mãe; uma luta cega no tempo. No casamento certezas ambiciosas e corajosas, mas violadas. Há quem se volte para a luta engajada, e arraste ideal. Ao resultado pífio de uma decepção lavada. Com certeza no braço do amado seria a paz , um jeito certo / ou esquerdo de acertar a quietude. Depois vazio. A idade descreve outro mundo, outro rumo, outra força ” tudo isso era estranho ao seu modo de pensar” -, qual será meu modo de ser, quem eu sou? As palavras escorregam: pelo fio telefônico, por uma carta encabulada, um pensamento desarrumado. Uma incerteza. Queria tanto descansar a cabeça, esticar o corpo num lugar colorido. Encher de gostosura uma xícara de chá. Saudade de abraçar e ficar muitas horas, sem relógio, a dizer o impreciso. Caminhar por atalhos e chegar ao mar… Hora esquisita de contar o tempo: sou a loucura deste vazio. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2020 – Torres sem eco, sem chuva nem vento. Deve ter estrelas no céu, mas não vejo.
