caçar pensamento

Sabes o que me alegra? O teu silencio a transbordar. Sabes o que me alegra? Tua voz a cobrir meu corpo. Sabes o que me alegra? Se ficas longe um ano, ou um mês não me abandonas, esticas tua mão com palavras e desenhos…

Sim, os velhos sabem que o tempo traz momentos inebriantes. E quando o conhecimento chega, não há mais bebida. Por que não detivera o tempo? […] Sentindo através das pálpebras fechadas que o dia clareava, Honda perdeu – se num monólogo. ‘Não, nunca houve para mim um momento em que eu precisasse parar o tempo. Para mim não houve nada que se possa chamar de ‘auge da minha juventude’ portanto não houve o momento de detê – lo. Deve – se parar no ápice, mas eu não consegui distinguir nenhum ápice. E é estranho, mas não sinto remorso algum. Não, ainda há tempo depois que a juventude acaba de passar. Vem o ápice, e então chega o momento. Mas se o olho que enxerga o ápice se chama olho da consciência, então tenho uma pequena objeção a fazer. Duvido que alguém tenha sido mais diligente do que eu em pôr para trabalhar o olho da consciência, e mais incansável em manté – lo aberto. E, no entanto, isso não basta pra detectar o ápice. É preciso que haja uma ajuda do destino, e bem sei que poucas pessoas receberam isso numa dose tão pequena quanto eu. É fácil dizer que a força da vontade me reteve. Mas será verdade? Não será a vontade a sobra do destino? entre a vontade e a determinação não há diferenças inatas como entre as castas na Índia? E não é a vontade a mais pobre?[…] Que poder, que poesia, que felicidade! Ser capaz de interromper tudo isso, assim que o alvo resplendor do cume se revela à vista! Vem um pressentimento na delicada excitação da subida, nas alterações da flora alpina, na aproximação de um curs de água. Mais um pouquinho e o tempo estará no auge, e sem pausa iniciará sua descido. A maioria das pessoas engana esta descida, recolhendo os frutos. Mas o que acontece? As trilhas e as águas apenas continuam se precipitando para baixo. […]

Talvez, incapaz de deter o tempo, tive de me contentar em deter uma série de táxis. Com o único propósito de ser levado a mais um lugar onde o tempo não pára. Sem poesia e sem felicidade. […] (p.95-96-97) YUKIO MISHIMA – A Queda do Anjo Mar da Fertilidade. vol. 4 Editora brasiliense

Sabes o que me alegra? O teu silencio a transbordar. Sabes o que me alegra? Tua voz a cobrir meu corpo. Sabes o que me alegra? Se ficas longe um ano, ou um mês não me abandonas… Beth Mattos – dezembro de 2020 – Torres

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