“Noting could survive the flood, the profusion, the downpuring of the immense darkness which, creeping it at keyholes and crevices, stole round the window blinds, came in to the bedrooms, and swallowed up, […]” nada podia sobreviver ao dilúvio, ao derramamento, à tromba d’ água de imensa escuridão que, insinuando -se pelos buracos das fechaduras e pelas frestas, metia – se pelas venezianas, atingia os quartos, e engolia […]” Virginia Woolf (1882-1941) O tempo passa – tradução e notas de Tomaz Tadeu – Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2013 – Edição bilíngue

Vento sopra / traz chuva, aquele bebê grita, a chuva se atira nas vidraças. Do farol posso ver a calçada brilhando. Logo a água enche a rua. Eu transbordo ansiedade… Fico a me pensar acarinhada pelo teu olhar. As fotos de antes/do antigamente/ presas no tempo. O tempo que cruzamos sem nos tocar. Sem esta latente ansiedade. Tua voz segura aquele passado: atravessamos com certa dificuldade a vontade. Primeiro olhar. Depois tocar. Depois inventar. Que medo eu sinto. Medo de estilhaçar os vidros. Segurar o tempo / a vontade rondando a nos espionar. Estamos proibidos, mas naquele ano que virias, quando nos falamos,cheios de coragem / eu já assustada – invadida por uma timidez medrosa levantei um alerta. Lembras? Assim mesmo chegamos a combinar, trocar números de telefone, fotos e estávamos desavisados, ansiosos. Querendo.

Como não sei o que escrever vou para os livros, vou estudar inglês para entender o que me dizes. Escutar as mesmas canções mil vezes. Vou redesenhar. Estes anos, tão poucos que se atravessaram entre as confidências e o meu susto, parece pequeno e enorme… Enorme! Cada semana pesa. Cada dia. Eu me encontro em tudo o que fazes, nos filmes, nos jogos, nas caminhadas, no verde, no descaso, no trabalho, no desleixo, e no susto. Nós nos esbarramos na cozinha. Quebrei o copo, deixei cair os talheres. Desastre. E a casa? Não podemos ter casa. Temos que estar no meio do jardim, no meio da rua, no café da esquina. Na rodoviária. Que medo! Não temos aeroporto. Fico com vontade de sair mudando tudo, não posso. Eu te passo o texto, como tu me passas as referências, vou aprender, vou começar do zero, nos veremos na penumbra, no escuro. Imagino outra vez. Sinto o perfume/cheiro da tua comida.

“Basta que alguém tome o seu lugar e eis que a casa adquire todo um outro jeito, como se ela se adaptasse às percepções e a vida de seu novo locatário. Estes lugares , têm eles uma alma ou são nossas percepções que lhes dão uma alma? essa experiência banal que diz respeito ao nosso habitat pode ser generalizada para os dados do ambiente […] Que os olhos do filósofo desbotam a grama, que os da sua mulher, bela, a tornam, ao contrário, deslumbrante… como se a beleza salvasse o mundo.[…] Existiríamos como faróis.” Michel Serres

Estes volumes são todos especiais. Especiais as edições. Preciosas. Paraliso. Estarrecida com nossa ousadia. Tu sabes tanto e mais! A pressão dos erros nos encoraja, o castigo fortalece. E nos aventuramos feito crianças. É nosso minuto, nosso momento. Este copo cheio de ansiedade e desejo nos pertence. Apenas um copo cheio, a transbordar: o nosso. Queres me devolver o encantamento… Eu quero. Faz tanto tempo que eu procuro uma saída, não consigo ver a porta que se abriu…Elizabeth M.B. Mattos – março de 2021 – Amordaçada, amarrada e te gostando tanto!, eu te escondo nos meus textos, fazemos aqui todas as brejeirices. Escondidos. Eu te gosto tanto. Antes, agora. Tu me salvas!

