deste viver atrapalhado / girando / voltando e indo, depois ficando

” – Vocês estão agindo como se Jörg tivesse uma doença contagiosa da qual não se pode falar. Por que eu não posso perguntar sobre a vida dele? Ele a escolheu, assim como vocês escolheram a de vocês e eu , a minha. Na verdade, acho vocês todos arrogantes.

Bem…eu nem imaginei como seria a velhice. Não pensava muito além do fim da ação ou talvez até a seguinte. Uma vez um jornalista me perguntou se a vida na clandestinidade foi difícil, e ele não conseguia entender que não era. Acho que qualquer vida que você vive agora, inteiro, sem estar com as ideias em outro lugar, é boa.” (p.44) Bernhard Schlink O fim de semana

Jörg, amigo integrante da Fração do Exército Vermelho, recebe o indulto pela acusação de terrorismo depois de passar 24 anos na prisão. O distanciamento entre entre todos é evidente. O que prometia ser um fim de semana tranquilo dá lugar a um clima de tensão. Questões como responsabilidade, culpa e perdão fervilham na mente de todos. Uma amiga de conversar todos os dias. Dia de socorrer a amiga que quebrou o pé esquerdo, e tem o direito machucado, alterou energias. E o calor. Ou foi o meu humor? Cartas lidas durante a tarde?! As perguntas: quando? Como? Quem? Eu voltei as mesmas explicações, voltei a casa da rua Vitor Hugo 229, que por acaso está exatamente no mesmo lugar, do mesmo jeito. E voltei ao Grupo Escolar Rio Branco, Ao Colégio Santa Inês, a Igreja São Sebastião, aos bondes Petrópolis e João About. Olhei para as calçadas rosadas, de pedra…Depois fui para o Internato no Colégio Nossa Senhora das Graças, com as Cônegas paulistas de Santo Agostinho que fizeram história naqueles anos de Rio Grande do Sul. Pensei nos bailes…, nos vestidos feitos por minha mãe, nos bordados bordados e desenhados por minha mãe, nas férias em Torres, outras no Rio de Janeiro. No encontro com Geraldo Moog, pai de três filhos = Rio de Janeiro, e, no Jorge O. Domingues, pai da minha caçula – Rio Pardo, Santa Cruz do Sul – Fazenda Santa Branca. Pensei no Flávio Tavares, Rio de Janeiro, Búzios, Buenos Aires. Pensei nos amores amados, nos encontros e desencontros. Pensei no Marco Frignani, em Modena, Itália sem falar italiano, Punta del Este, Montevidéu, o Uruguai é um dos lugares perfeitos de morar, Carrasco e as bicicletas. E nas histórias ora felizes e agitadas, outras silenciosas e discretas. Nas inúmeras tentativas de “vou começar tudo outro vez”. Pensei no Colégio da Providência em Laranjeiras – Rio de Janeiro, e no Mestrado abandonado, depois , finalizado em Santa Cruz do Sul, e tudo o que deixei por lá. Quando foi mesmo que fui ser, definitivamente, carioca? Em 1968 até 1990. E Porto Alegre com certo desagrado da inadaptação, mas foi apenas, ou só por um momento. Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, o Concurso do Estado, assumi. Outros cursos, sempre a estudar francês, conclui o Nancy. Dei aulas na FISC (Faculdade Santa Cruz do Sul), e a virada completa, do interior para desbravar Torres. Ousar uma transferência. E Luiza e eu, apenas as duas, viemos: rua José do Picoral, 117 apt. 201 – no Centro. Morar em Torres? As Escolas Estaduais, o Colégio das Irmãs, depois a Universidade Luterana do Brasil. E o Doutorado Conveniado – Limoges. Trabalhar, natural, e meus alunos eram a energia boa e sadia. Foi uma conquista de ficar, ficar e me aposentando ficar ficando até hoje. Houve A Garagem de Arte – Porto Alegre -, aprofundar as artes: convivência com amigos pintores, escultores, o social. Porto Alegre deveria ter sido o melhor, mas me foi assustadora por um momento. Crueldade, desestruturação. Foi só um momento. Salva por outra mudança. O mar, a praia, o meu maravilho estar, se misturou com férias de tantos anos, com a meninice, com a juventude, o reinado. E agora, a professora. A cidadã. Cada vez menos Porto Alegre. Rio de Janeiro e São Paulo são passagem. Redutos de férias, dos filhos, dos amigos resgatados como Paulo Sérgio, porque ainda não voltei a Minas Gerais que pertence ao meu mapa por tanto tempo a ganhar boas temporadas. Era para Belo Horizonte que eu estava me mudando quando minha amiga mineira, a Sônia, morreu num acidente de carro. Uma girada de morte e tristeza. Os planos se transformaram/desfizeram… E Torres ficou a esperar, o meu balneário, o desenho do meu pai e da minha mãe: uma casa, um futuro, um sol apenas meu, e o tudo para recomeçar. Já faz vinte anos, eu acho, ou mais, ou menos, se intercala com Porto Alegre. O definitivo foi de repente. Como se toda minha vida eu estivesse a me mudar, a morar, a pensar em ficar beira mar. Eu ia, eu voltava, eu ia, eu voltava, como um carretel. Este ano pensei muito em abrir o apartamento de Porto Alegre e virar porto-alegrense. O neto, os cinemas, as lotações, amigos. Dizem que tudo mudou, dizem tanta coisa! E eu, covarde, não fui olhar, tentar, pesquisar, voltar…, quem sabe até trabalhar. Será que não posso mais trabalhar? Uma ideia no meio deste tempo de Lagoa do Violão. Tempo de ler ler ler e ler / sacudir o pó das estantes e escrever amorando…Logo seria adolescente outra vez neste susto/surto de fazer 75 anos. Esquisita e volteada a vida. Frutas de épocas diferentes, outros sabores. Outras misturas, gosto de mudar. Recomeçar, ordem. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2021 – Torres

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