Amar é proteção. Esvaziar esperança, desespero. O vento acinzenta mais o dia, não sei se quero dormir, escrever, ouvir música, ou ficar em silêncio. Deveria ter sol num dia comprido como o de hoje. Eu deveria estar animada. O sol demora para chegar, mais preocupada eu fico… Será um verão colorido, escaldante, superlotado? Deve ser o susto esticado do frio! Como será voltar a ser como era? Como será voltar? Ou não. Terei que recriar. A energia se desprende por um nada. Escrever tão complicado! Pensar tão complicado! E as calçadas estão cheias. É o feriado. Ansiosos ou inquietos, ou distantes, ou esvaziados. Presos. E por que a sensação de encolher? Tudo é sintético, prático, posso jogar na máquina de lavar… Secar o casaquinho em cima de uma toalha, e na grama quente, ao sol, outra toalha bem fina em cima. Descascar laranjas. O sol seca, perfuma, mas desbota também, estou confusa. E a louça deveria ser seca imediatamente, almoço sem vestígio. Vontade de comer um pudim de leite doce, leve, com calda. E a comida teria sido feita na hora. E as vozes deixariam a tarde maior, não o dia inteiro se espreguiçando, mas as coisas sendo feitas. Escrever pesa, e se arrasta sem vontade. A pensar que faço tanto força para ser eu mesma, mas todos os dias quero ser outra. Por que minhas unhas deixaram de ser polidas e bonitas? Aquela alegria desapareceu, talvez tenha apenas se escondido. Não basta carregar alegria renovada, há que cuidar e distribuir com gentileza. Os sabonetes devem ser perfumados, os lençóis limpos, as cobertas ventiladas, a poeira? Está ventando. Que dia tão cinzento! As buganvílias se entusiasmaram: dois ramos começam a florir. Vou cuidar do meu olhar, deste ver e ouvir exaustão. Por que estou tão cansada?!
