impressão

” – Você vai sair à tarde?

Aquelas palavras tão simples, tão banais, pareceram-me carregadas de sentido, como se escondessem entre as sílabas ideias que nem Viviane, nem eu ousávamos expressar. Demorei a responder, não porque tivesse dúvidas quanto às minhas intenções, mas porque fiquei um momento em suspenso naquele universo um tanto angustiante, mais real, no fundo, que o cotidiano, e que dá a impressão de expor o reverso da vida.” ( p.7) Em caso de desgraça George Simenon

Li durante a noite, dormi de dia. Escutei pelas frestas da minha concentração… Depois dormi na inquietação da leitura e sonhei, como se eu mesma fizesse parte daquela incerteza tão certa, sonhei e senti o medo aflito… Talvez eu viva muito sozinha, ou para dentro! Talvez eu não deixe/permita/ sinta a vida chegar do jeito certo (!?!!), talvez a janela escancarada misture o real com o irreal. Alegria pessoal, e desejo com música, com prazer. Fora do mundo, e dentro, possuída por tudo que me rodeia. Luzes em excesso, outras tão…, sim, sou uma pessoa/um alguém a resmungar, a se inquietar, a ser feliz! Feliz com o reencontro com Simenon: ansiosa também. Que poder de remexer por dentro! E tão corriqueiro e objetivo. Não sei explicar. Agarra no primeiro parágrafo, no segundo já não penso, deixo de ser. Logo eu mesma estou no terror, na aflição do não confesso. E o meu fazer doméstico empurrado para depois…, logo a cozinha precisa de limpeza, os quartos de ordem, o dia de clareza. Vontade de voltar a ler, os olhos ardem, e a cabeça está desarrumada, a caminhada mais apressada…Procuro outros livros dele, acho que emprestei alguns, não estão na estante. E…, já não lembro bem, talvez para a Magda? Ou Carol? Não, foi para a Ana. Alguém que me fez uma visita. ” Ainda existem aveleiras”, ” Os quatro dias de um pobre homem”, ” Carta a meu juiz”, ” O homem que via o trem passar”…Os livros. A memória. Preocupada estou com estes lapsos demorados, conversas esburacadas. Estou com medo. O que estarão fazendo as pessoas neste acordar? Como será conviver? Estar junto? Algumas leituras nos arranham…Sim, Simenon mestre! As reflexões estão amarradas, suspensas e…Sim, insone tento dormido tanto! Incoerências. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2021 – Torres – Não telefonei para a Marina, não falei com a Suzana! Não almocei com a filha! Agarrada num livro, enfeitiçada pelos velhos discos que se divertem no retrô toca-discos que o João trouxe! Sou criança.

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