Aliviada, queimaste cartas e fotos. Ardente lembrança tempestiva. Ao me desnudar estremeço, depois tremo no pudor. Bom que sabes arrancar o medo e me acordar. Guardo o colorido / festivo sentimento: amor que sinto por ti. Confesso ansioso amor. Releio mil vezes o que me escreves até comprimir o sentimento… O extravio na papelada do correio, mas nas caixas guardo nós dois, como se fôssemos pigmento. Misturo/ preparo e uso o pincel mais grosso para escorregar. Desenho na tela, esparramo as lembranças. Passo os dedos pela tela, loucura absoluta. Pelo tato, pelo cheiro sinto teu corpo. Uma página da tua carta (uma basta) aquela dos teus beijos no meu corpo, a das tuas promessas sussurradas: despejo vermelho, depois esparramo o castanhos, desenho teu rosto, aperto teus olhos, defino tua boca. Não és mais o garoto/menino da minha memória. Deixo uma palavra boa, a melhor, a flutuar pelo amarelo… Jogo a tinta branca respingar em / por cima de nós dois. A tinta demora a secar. O desejo se agita, grita: tempo indefinido. Uma semana, um mês inteiro. Queimo ansiedade em longas caminhadas. História boa / beleza certa, tu és mestre. Obrigada por destruir vestígios, sim. Sem rastro. Se estivéssemos, hoje/agora juntos nem fotos, nem bilhetes, nem tempo existiria, apenas tu e o meu delírio. Hoje cavoucarei a terra até os dedos sangrarem. Alguns artistas pintaram com sangue, a loucura da imaginação / transgressão. Karin Lambrecht. Não sei,… os museus, as galerias te interessam? Tenho tanto para apreender contigo… O mundano da beleza se remexe…Tu podes me levar, não esquece… hoje, amanhã, depois de amanhã já… Tenho certeza que virás por mais tempo (foi tão furtivo, tão abrir e fechar o nosso último encontro!), depois esquecemos tudo…, eu te prometo. Apenas hoje enquanto ferve o desejo. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2021 – Torres
