avulsos inconclusos

Esqueceu do conceito filho / amo / ou palavras correlacionadas: não esquece de pedir ajuda, na necessidade, recorre ao filho: um botão que aperta vez que outra. Envelhece manipulado pela carência essencial, os neurônios se apertaram num casamento tardio utilitário.

Elaine, minha amiga querida: aos poucos nos esvaziamos, das coisas boas, também das coisas ruins. Um balão que deixa de voar. Envelhecer não significa enfeiar como dizem/divulgam cirurgiões plásticos. Envelhecer tem outros fundamentos. Como reagir? Não desistir de certa rotina amorosa… Não estou pensando, apenas escrevo. Perdoa.

Roberto: saudade sim. Nostalgia. Incapacidade, ou desânimo? Não sei. Vontade de fazer, mas um cansaço de dentro! Isso existe? Vontade de mudar tudo de lugar, acertar os sons ou o passo, deslocar os vizinhos, e entender porque gostar e desgostar funciona atravessado… sentimentos desgovernados e inexplicáveis.

Ana Cristina: tantas pequenas histórias, tantas enormes e desgovernadas anedotas: uma crise mastigando outra crise, e o cinzento do dia parece tão adequado quanto impróprio para um dezembro. Estrangulado e a ponderação idiota. Num repente qualquer observação sai dos trilhos, avança pela floresta, depois se surpreende diante de uma nascente a jorrar água. Colar o rosto no espelho, ou sentir a mão na mão: dança indefinida, apenas amorosa e longa, comprida e indefinida… Um corpo no corpo do outro, abraço, certeza, o mesmo cheiro de terra molhada de suor, de lágrima. Como posso descrever o ano, o tempo de reagir ou ser quando se espicaça a cor rosa dos gramados? Verdes ou castanhos, ou amareladas e perdidas margaridas? Num átimo de lucidez, certeza: eu sozinha, estou bem, e posso ainda me entregar.

Eduardo: estás amarrado no/ao meu pensamento para rejuvenescer cada momento, seja o teu instante, seja o meu. O som / a voz das crianças ecoarão música. A luz atravessa a fresta para seguir sendo luz! Insiste em se apresentar no escuro da sala. A sala fica casa aconchego. Aconchego rastreado. As incertezas escorregam por baixo da porta e se encontram atrapalhadas no corredor do prédio, são varridas com energia. A faxineira veio cheia de vontade! A limpeza ilumina. Se existe incoerência a cada decisão, existe uma dor a ceder ao movimento do corpo. Reação. As cartas voltam a abarrotar a caixa de correspondência como antes / floridas. Amigo vivemos na imaginação do outro, devagar nos despedimos.

JMG: no escuro do silêncio eu te imagino, embora tenha apagado a luz do corredor, vejo o teu vulto e escuto tua conversa. Sempre estás a me visitar, e a me surpreender e gosto.

Marta: tu me fortaleces enquanto escreves no caderno das anotações, eu revivo. As conversas pontuadas e ininterruptas atravessam os anos, e os meninos voltam a ser engenheiros. O cheiro de churrasco abre as cervejas geladas. Estamos no meio do sol que ora se faz praia, ora gramado, ora risada e ora o silêncio bom das velhas amizades.

Marcelo: deixaste a bomba enterrada, fiz o possível para não deixar detonar, mas a cada jardim um novo estopim…, impossível entender esta tua engenharia e o teu recuo. Uma batalha meio a guerra e a tantos recursos brilhantes! Idas e vindas te fazem campeão de estratégias curiosas. Um brinde ao ano que termina, a sobrevivência! E a nova guerra! Não termina. Que teu jardim de junquilhos esteja florido.

Roberta menina: ser a mimosa menina a guardar coloridas borboletas, tão raras nos jardins de hoje, pode ser a vida na mutação do amor. Muito especial tua palavra chegando, atravessando e se esparramando por aqui…

Atravesso a resistência, chego nas palavras, mas ergo um muro de incertas questões…, os tijolos empilhados deveriam construir a catedral, não separar. Escrever é um jogo perigoso de incerteza e tantas/muitas obviedades tolas. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres – avulsos inconclusos

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