Esta coisa de contar, e dizer o que importa. Onde está a coragem? Antes de pensar / antes de abrir os olhos já estou a censurar a confidência, a memória. Desânimo, sentimento intrometido. Este desgosto raiz! Faltou leveza: uma mãe exigente, pontual, atenta, artista, forte, inteligente e feminina. Um pai generoso, carinhoso, envolvido, alegre e decidido a ser desdobrado entre amor e o prático, o possível e o tudo. Nunca deixar faltar. O excesso. As histórias cruzadas o descrevem de mil maneiras curiosas, um amigo me diz, lembro do teu pai, gostava de futebol. Verdade, adorava escutar rádio, mas não perdia os jogos, qualquer jogo. Adorava o mar. Era um excelente caminhante, existe isso? E aqueles olhos arregalados e tranquilos nos davam paz. Eles gostavam de cães de gatos, do fogo, da água, da música e de estarem vivos. Elizabeth M.B. Mattos – janeiro de 2022 – Torres
Quando conversar será se narrar/ se explicar, mas c, também, costurar palavras e jeitos nas tuas, nas minhas palavras desajeitadas, e, desconfiadas. Estares por perto tem cheiro de fogaréu, de céu aberto, descobertas, e me dá um medo desgraçado de voltar a ser eu. Faz tanto tempo que não sou! Fácil deixar de existir: aos poucos nos escondemos na voz e no abraço dos filhos. Assim, passamos a ser parte da vida ganha/descoberta de cada um. Depois os netos a correr, dançar, ou pintando, sendo Valentina, sendo o novo e a força, o medo, e a coragem como Lucas e João. Sobra uma fresta para ser eu. Mas, estou, sempre, apenas espiando…
