“Na luta pela sobrevivência não há lugar para sentimentalismos espirituais, só para o desejo de matar o adversário da maneira mais rápida e eficaz; nisso todo mundo é positivista; também não seria virtude no mundo dos negócios deixar-se iludir em vez de agir concretamente, e com isso, em última análise, o lucro é a superação psicológica do outro, dentro das circunstâncias. […]E, assim, não tem mais a ver com a luta por vantagens pessoais e relativamente vulgares; mas o elemento primitivo do mal, como se pode dizer, não foi perdido, pois é aparentemente eterno e indestrutível; ao menos tão eterno quanto o ideal humano, pois é simplesmente o desejo de passar uma rasteira nesse ideal e vê-lo cair de cara no chão. Quem não conhece a maligna sedução que, quando olhamos um belo vaso vitrificado, vem com a ideia de que o poderíamos quebrar em mil cacos com um só golpe? Intensificada até o amargurado heroísmo que nos diz que na vida não podemos confiar em nada senão no que for absolutamente seguro, essa tentação é o sentimento fundamental na objetividade da ciência; e se, por respeito, não a quisermos batizar de Demônio, pelo menos admitamos sentir um leve cheiro de enxofre.” (p.218-219) Robert Musil O Homem sem Qualidades / admito que ainda é incrível a leitura!