“Fico espantada por ela espantá-lo. A vida tem de um braseiro o calor (este calor que os mortos não tem mais), os sobressaltos, a mistura de luz brilhante e de fumaça negra, e, como o fogo, ela se alimenta da destruição; é devoradora. Digo seguidamente que toda criatura é um vulcão, o que é mais ou menos a mesma a mesma coisa. Contudo, em outro sentido, como não pensar na sublime meditação búdica: O mundo está em fogo ó meus irmãos! O fogo da ignorância, o fogo do ódio, o fogo da inveja, o fogo do rancor…” Vemos nesse momento, em torno de nós, muitas dessas chamas. E não nego a presença tranquilizadora do fogo do amor, mas com muita frequência acontece de esse fogo apagar-se mais rapidamente que os outros, ou, por sua vez, tornar-se devorador.
- Qual é o sentido exato do título geral que a senhora deu a essas obra: O Labirinto do Mundo?
Nele, também, a fórmula me parece dizer por si mesma. Não se pode ler o jornal matutino ou escutar à radio a noite sem ser mergulhado em um labirinto de acontecimentos e de seres, e no fundo de todo labirinto há, sinistro ou de aspecto falsamente benigno, um Minotauro. É um dos mais velhos símbolos do que convencionamos chamar de nosso subconsciente. A imagem do labirinto foi esculpida, pintada, gravada nas paredes, no flanco dos vasos, no solo dos arredores das aldeias, em várias partes, da Creta à Finlândia, e figura nos mais antigos contos de todos os povos. Portanto, não tenho pretensões à originalidade.” (p.207-208) Marguerite Yourcenar De Olhos Abertos Entrevistas com Matthieu Galey