sufocamento de alma

Somas, divisões, igualdades ou diferenças, fatos, informações. Queixas confusas e difusas observações. Equilíbrio na pauta, nas linhas; por que escrevemos? Caótica meio/forma misturada com o preciso, ou impreciso de informação, na categórica relevância… Kar Ove Knausgard se refere a leitura de Peter Handke: Bem-aventurada infelicidade: “Quando comecei a escrever eu estava em busca de uma linguagem, senão seca, pelo menos crua, no sentido de tosca, direta, sem metáforas nem ornamentos linguísticos. A última coisa que eu queria era embelezar a linguagem, e numa descrição da realidade, e em especial da realidade que eu tinha pensado em descrever, esse seria um procedimento mentiroso. A beleza é um problema porque porque sugere uma forma de mentira. A beleza, ou seja, a linguagem literária, o filtro através do qual o mundo é visto, confere esperança à desesperança, valor àquilo que não tem valor, sentido àquilo que não tem sentido. É inevitavelmente assim. A solidão, quando descrita em termos belos, eleva a alma a grandes alturas. Mas nesse ponto também deixa de ser verdade, porque a solidão não é bonita, o desespero não é bonito, nem mesmo o anseio é bonito. Não é verdade, mas é bom. É um consolo, é um alívio, e talvez seja esta uma das justificativa da literatura? Mas neste caso estamos tratando da literatura como outra coisa, como uma coisa à parte e autônoma, que tem valor em si mesma, não como uma representação da realidade.” (p.154) O Fim / Karl Over

Leituras sobrepostas, minuciosas. Uma leitura colada na outra leitura; um caldo de informações repetidas, ilustradas e densas. E um hoje abafado, febril, sufocante. Apertado, porque desorganizado. É preciso tempo, silêncio, zero interferência, e, mínima concentração para que o pensamento consiga se espreguiçar para iniciar um/o trabalho / qualquer trabalho. Seja com os lápis nos desenhos, ou os pincéis nas telas. O olhar quieto / atento trabalhoso, exige teu corpo, inteiro, completo. Ou seja, riscar as palavras, teclar, encarar a folha em branco e o tempo exaure / exige. Que o telefone não toque, nem fiquem vivas as vozes. Não se movimente a sombra, nem a possibilidade de vento… Que a chuva refresque, mas não interfira escorrendo nos meus olhos, nem molhe meus cabelos, nem plante ideias novas, apenas apazigue as existentes. Ah! Estas leituras misturadas, aborrecidas, inquietantes. E os olhos a doeram, a cabeça se comprime, o suor desce agonizante… Oxalá o tempo se dilate para que eu possa, largar as aflições e comer a minha maçã, e depois, recomeçar. Elizabeth M.B. Mattos – março de 2022 – sentindo o corpo se impor, vitorioso, mas perdendo as palavras no travesseiro.

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