Paulo Hecker Filho / “a vida em sociedade é um jogo” escolher / escolher a leitura / decidir…, ou apenas jogar, fazer parte da equipe

Sinto falta de grandes amigos, sou afortunada, eu os tive. Saudade! Eles não estão aqui, ou, tão longe… Paulo Hecker Filho foi um destes grandes e poderosos amigos. Embora morássemos na mesma cidade nós nos escrevíamos, um jeito solto de dizer a verdade / era um missivista e eu, adoro cartas, o sentido da correspondência! Ah! “[…] o social é um jogo que segue regras predeterminadas, certas coisas são escondidas, certas coisas são mostradas, e de que vivemos de certa forma em uma ilusão. O jogo depende da participação de todos, a ilusão, de que todos acreditem nela.”(p.331) Engraçado! O que eu queria dizer?! Paulo e eu criamos um jogo nosso, as cartas. Guardei a dependência insana de partilhar tudo com ele, perguntar, dividir, discutir, arrastar as tristezas pequenas dos meus amados, os arrufos! ah! Sinto falta! Como sinto falta dele! Estas amizades seguem, nos acompanham como parte, intensidade! SOS amigos silenciosos! Onde estão? Quero saber e estar. Estou a ler Karl Ove Knausgard / jovem e vigoroso / audacioso, potente. E tropeço na memória / neste livro O fim ele faz um inventário / uma cartilha / uma trilha do que importa da/na literatura, e…, pois é, não me atrevo, o Paulo diria… Ele dominava o circo. Podia rir! “A risada é, nesse sentido, uma força social poderosa, um dos mais fortes mecanismos de correção que existe; poucas coisas são mais humilhantes do que ser motivo de riso em público, e para evitar essa situação o jeito é não se destacar, mas permanecer onde todos os outros estão.” (ainda na página 331) Estou divagando na saudade! Por que desatei a pensar e a querer que volte, ou que me escreva, ou converse, ou seja? Apenas para que ele sinalizasse a leitura. Risse comigo, ou me fizesse tomar outro rumo. Não. Ele estaria comigo, no mínimo diria, este jovem Karl Ove leu, leu e leu muito, enquanto escreve ele está na releitura dos grandes livros! Ah! E não podemos perder tempo / ou não deixamos de ler um segundo, ou temos que escolher os grandes, sem passar por eles não iremos a lugar nenhum…E eu encontro neste livro o primeiro conselho sobre Dostoievski e sua obra prima O IDIOTA / ele sinalizou: não serás especialista no grande russo, então, antes dos Irmãos, antes de todos, os outros livros, lê com cuidado O IDIOTA. Claro, eu li, com cuidado, com paixão, absorvendo e entendendo (eu acho). Karl Ove ensina, e comenta literatura, gêneros literário e define, e sublinha! Há que se acompanhar respirando! “ O Idiota é o oposto de Dom Quixote e Madame Bovary. O Idiota é uma anticomédia. O romance inverte por completo a lógica da comédia, porque é o cinismo do mundo que é revelado, são as pessoas que riem do vazio do mundo que são desmascaradas através de uma pessoa não hipócrita. Ah, mas que tipo de qualidade é a ausência de hipocrisia numa pessoa, que põe todos ao redor em desespero, faz a inquietude aumentar e eleva o caos a níveis ameaçadores, sem no entanto fazer nada além de existir para que tudo isso aconteça? O príncipe Míchkin acredita que aquilo que vê, aquilo que as pessoas mostram, é o que é, e que aquilo que é dito é dito com sinceridade. Ele não sabe nada de pensamentos ocultos, não entende ironias, não compreende a interpretação de papéis. Não tem a menor ideia de que a vida em sociedade é um jogo. Ele é um consigo mesmo, e parte do princípio de que todas as outras pessoas são assim. Mas elas não são, e o fato de que ele não sabe disso é o bastante para virar o jogo, porque Míchkin oferece a estas pessoas um lugar de onde podem observar tudo isso, um ponto fora da vida em sociedade, a partir do qual o próprio jogo torna – se visível, e com ele a arbitrariedade do jogo. Os papéis fazem sentido no contexto do jogo, mas quando o jogo é reconhecido como aquilo que é, eles perdem a razão de ser. Quem são as pessoas a partir desse momento? Elas mesmas? O príncipe Michkin é ele mesmo. Um ser indivisível, sem gêmeos, nem duplos. Mas em consequência disso ele também está condenado a permanecer fora da esfera humana. Uma sociedade composta por pessoas legítimas que mantêm uma relação de um para um com tudo aquilo que é dito e mostrado é uma sociedade onde nada pode ser escondido, nada pode ser ocultado, nenhuma diferença real pode ser criada. Em outras palavras, o legítimo é o oposto do social. O social divide, exclui, oprime, exalta. O social é um sistema de diferenças, um mundo onde tudo e todos são avaliados e diferenciados. O idiota acaba com todas as diferenças, no reino dele todos são iguais. Não é a bondade dele que cria problemas enormes para o social, mas a autenticidade.” (p.332-333) Ufa! Enorme a citação, mas não saberia dizer tudo e tanta clareza! E eu me lembrei do conselho, tenho que encontrar a carta onde ele indica e aponta e ajuda a escolher! Eu o segui, posso dizer religiosamente?! Não porque sou anarquista / desorganizada e tantas vezes apaixonada! E lembrei do Tavares! As leituras eliminam o social / excluem também, adormecem? Não sei. O que eu posso dizer seria a leitura sacode, a boa leitura! E não há tempo a perder! Elizabeth M.B. Mattos – março de 2022 – Torres

“A grande ameaça em todos os romances de Dostoiéski é o niilismo, o ruidoso e reluzente parque de diversões do social em plena festa da ausência de sentido sob a noite escura do vazio, e ele se protege contra isso tudo co unhas e dentes, por repetidas vezes, valendo-se do sagrado e da simplicidade.”

Não posso continuar, posso dizer, é preciso estar lá e ler O Idiota / também entrar na aula de literatura / no pensamento / na ousadia de Karl Ove Knausgard

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