8 de novembro
A gente não pode conhecer seu próprio estilo e usá-lo. O estilo que se usa é sempre preexistente, mas de um modo instintivo, que plasma um outro atual. O estilo presente só é conhecido quando se torna passado e definitivo, e a gente volta a percorrê-lo, interpretando-o, ou seja, percebendo claramente como é feito.
O que estamos escrevendo é sempre cego. Não podemos saber na hora se está ficando bom (e depois, retornando-o, o julgaremos realizado). Nós simplesmente o vivemos, e é claro que as astúcias, os expedientes que já empregamos, são outro estilo composto de antemão, estranho à substância do atual.
Escrever é gastar os maus estilos, empregando-os. Voltar ao já escrito para corrigir é perigoso: seria justapor diferentes coisas.
Então não há técnica? Há sim, mas o novo futuro que importa está sempre um passo adiante da técnica que conhecíamos, e sua polpa é a que aos poucos nos vai nascendo da pena, não sabemos.
Conhecermos um estilo significa termos desvendado parte de nosso mistério. E que daqui por diante nós nos proibimos de escrever nesse estilo.
10 de novembro
A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida. Diz a ela ‘não me fazes de bobo: sei como te comportas, eu te acompanho e te prevejo. até sinto prazer em ver-te agir, e roubo teu segredo. compondo-te em construções astuciosas que te detém o fluxo.’
Afora esse jogo, a outra defesa contra as coisas é o silêncio recolhido para o ímpeto.(p.153-154) Cesare Pavese O Ofício de Viver
Este diário foi publicado após a morte de Pavese em 1952.
“Ao lermos não buscamos ideias novas, mas pensamentos já pensados por nós“[…] p. 140

