acho que a gente muda de cidade porque muda de história / parece que levamos as nossas roupas, alguns móveis ou louças, panelas, mas, de fato, não levamos nada, porque na mudança trocamos a alma, somos outra pessoa, as identificações não servem de nada
uma vez, não, mais de uma vez bateram na minha porta e eu não abri. Não abri pro homem das verduras, nem para o carteiro, nenhum viajante, nenhum velho amigo, não abri a porta para as histórias de antes, ou de ontem, ou para as que poderiam ser para amanhã
abrir a porta é perigoso
abrir a janela também pode ser
a ilha seria o melhor lugar, não atender ao telefone, a carta pode ser a solução, a velha e antiga carta, ela pode esperar em cima da mesa, já entrou, sabe esperar…
não abrimos a porta, nem a voz, nem o suspiro, sequer choramos.
trocar / changer / mudar
quando quero ir para outro apartamento, outra cidade, quero ser outra…
poderia ser fácil, mas, nem sempre está tudo naquela valise que posso levar…Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2022 – Torres
