trambolho imprestável

Campbell:

“[…] percebe-se que ser um homem moderno é algo extremamente árduo. O esforço tremendo daqueles que assumem o sustento das famílias – bem, essa é uma tarefa que exaure e consome toda uma vida.

Moyers: Mas eu prefiro isso às pestes dos séculos XII e XIV…

Campbell:

O estilo de vida daquela gente era muito mais ativo que o nosso. Nós passamos o tempo sentados em escritórios. É significativo que os problemas da meia-idade sejam tão salientes em nossa civilização.

Moyers:

Você tá tomando a coisa do lado pessoal!

Campbell:

Eu já passei da meia-idade, portanto conheço alguma coisa a respeito. Algo típico de nossas vidas sedentárias é que usufruímos ou podemos usufruir da excitação intelectual, mas o corpo não tem muito a ver com isso. Resultado, você é compelido a se engajar intencionalmente em exercícios físicos, um pouco por dia, e assim por diante. acho muito difícil extrair prazer de tais atividades, mas elas aí estão. Caso contrário, todo o seu corpo lhe dirá; “ei, você me esqueceu completamente. Eu estou me tornando um trambolho imprestável.”

Moyers:

Ainda assim, me parece plausível que essas histórias de heróis se tornem uma espécie de tranquilizador, invocando em nós a passividade benigna de contemplar em vez de agir E o outro lado da moeda é que nosso mundo parece esvaziado de valores espirituais. As pessoas se sentem impotentes. Para mim, esse é o curso da sociedade moderna, a impotência, o tédio que as pessoas sentem, a alienação das pessoas em relação a ordem do mundo ao seu redor. Talvez necessitemos hoje de algum herói que dê voz as nossas aspirações mais profundas.

Campbell: Você está descrevendo exatamente The Wast Land [A Terra devastada], de T.S. Eliot, a estagnação sociológica de idas inautênticas e de um viver que nos foi imposto e não tem nada a ver com nossa vida espiritual, com nossas potencialidades ou até mesmo com nossa coragem física – até, é claro, que isso nos lance numa dessas guerras desumanas. (p.139-140) Joseph Campbell O Poder do Mito com Bill Moyers

sono

Às vezes tenho que inventar o sono, o corpo tá moído de cansaço, mas onde se escondeu o sono? E mesmo o sol, ou principalmente, o sol pesa nos olhos e nos ombros. A leitura fica desarrumada nas carreirinhas das letras, e, quero dormir, quero dormir sem sono, no meio do sol mesmo. Recomeço o movimento de limpar, lustrar, desfiar a música, balançar o corpo, mas estou presa neste dolorido do impacto. Às vezes pode ser uma palavra chamada notícia que inquieta, outras, o vazio ele mesmo, as picadas de dúvidas! Pois é! As respostas não são perguntas, mas fatos. E o fato está congelado. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2022 – Torres

pode ser amor

não dormir pode ser amor, esperar e deixar a sensação de entrega durar, durar, durar a madrugada para ver o dia amanhecer / ensolarar, porque hoje tem sol! não chega o sono, ele saltita lá dentro do corpo agitado, mas a cabeça domina! ah! comer o bolo do presente (obrigada, minha amiga!) fazer uma torrada com queijo derretido, um ovo batido, uma bergamota, ah! fazer, até caminhar! Ônix gostou! E depois, depois, voltar para cama e por algumas horas, desaparecer! É o cheiro de um bom sábado! Elizabeth M.B. Mattos – maio – 2022 – Torres

ou rezar

Insônia comprida! Uma caminhada arrastada pela noite, passos lentos! Que o sono possa derramar coisa boa, e, sem querer querendo eu durma! Demore para acordar! Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2022 -Torres – teimosa / crítica / posso ser perversa / e sofrida seguro a dor feito criança, choro engasgado – deixar as lágrimas escorrerem pode ser o melhor remédio! Ou rezar! Exagero! Um sono desarrumado!

Adicionar

A vida não deveria se apressar, sinto que estás a me espiar e eu a te gostar, sem coragem, os dois, mas o céu faz tempestade, faz sol, faz quietude e nos espera, pensa, quanto tempo? Vamos ter que caminhar. Talvez subir ladeira. Nadar no rio, secar ao sol, estirados na grama…

Escondi uma surpresa no bolso! Vais rir! Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2022 – Torres

perdido

Por que ficamos achando/reencontrando/ ou reinventando o perdido? O perdido deve desaparecer, completamente, e, nunca mais assombrar. Quebrou, desapareceu, alguém levou. Complicado no momento de constatar, depois, depois? Seguir em frente, largar de pensar na coisa, na pessoa, no perdido. É o jeito certo. Aquele começar que tem gente que chama de recomeço / não é, não precisa ser, pode ser sempre começo, e, ponto. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2022 – Torres

Como no amor, o amor amado de hoje é amor com letras maiúsculas: A M O R! É assim que eu me sinto quando abraçada. Sei que estás outra vez aqui, quando abres a porta, eu sei, então, o sentido do hoje, do agora, cinco horas da tarde. Conheço teu jeito no meu jeito.

dia completo

Quando o dia fica completo às quatro horas da tarde? Quando o sol explodiu depois do vendaval! Quando compramos frutas e verduras, depois mais um monte de bobagens, e, bebemos uma coca – cola. Se, ainda muito cedo, a caminhada fez os pés doerem, e, mesmo assim resolvemos fazer omelete pro café da manhã, e, tivemos boas notícias dos filhos! Parece que tudo está em ordem, porque nos apaziguamos! O exercício precisa acontecer porque apesar dos pesares e da boa vontade do sol, o mundo ainda está do mesmo jeito, embaçado. Elizabeth M.B. Mattos – maio de 2022 – Torres

deveria ter sido

1.

As crianças estão bem. Ainda chovia quando saíram. Estiveram a se envolver com os cães. Acharam o Conde, agora Blake, trocamos o nome, lindo. Ele comeu banana na mão, sem susto, e se aproximou, mas segue extremamente arrisco, medroso. Deve ter sido bastante maltratado. J. e eu não conversamos. A casa fica menor quando há este constrangimento. O dia está feio. Arrumei e lavei louça. Dobrei as roupas. A casa precisando de ordem / arrumação e limpeza. Não veio o sol mas parou a chuva. Tenho vontade mesmo é de estar diante do fogo, quieta, lendo um livro. Quero alguém limpando, cozinhando, fazendo brilhar… Quero ser servida.

Nossa ida até Porto Alegre deveria ter sido festiva, aparentemente, foi completo: ao dentista, ao obstetra, e trouxemos o cachorro. Não decidimos sobre o parto, conversamos com seu pai. Visitamos a Lorena, querida, alegre e entusiasmada com ela mesma. Pessoas tranquilas. Sou eu que ando triste, não sei o porquê. Quero milagres. Preocupada com o dinheiro. Ontem confiante, hoje acabrunhada, sem vontade. O dia ficou mesmo branco e preto. que pena! Deveria estar na concentração para decidir o que vai acontecer com a greve. Nós professores neste impasse! Estou completamente desanimada. Um ano perdido! Deveria arrumar meu armário, encaixotar as coisas para a mudança, ou corrigir as provas / preparar as aulas. Pensar no francês, mas acho que vou interromper as aulas particulares também. Estes horários tardios irritam o J. (acha q não tenho tempo para nós). Eu penso nas saídas dele, nas decisões apressadas! Estou com frio. Acho que deitarei na cama do Pedro para olhar o pessegueiro…Vontade nenhuma de ir pro meu quarto, quero sumir, chorar, apequenar. Tudo está tão cinzento, desalentador hoje. (17:30) Elizabeth M.B. Mattos – maio de 1985 – Santa Cruz do Sul

André Gide

Abre o livro e verás! Lerás, não a inspiração de Paulo Coelho, mas Gide como ele é, e sempre foi! O melhor! E agora, mais, muito mais…

Conservei até o fim da noite a esperança de uma novidade de luz; agora não vejo ainda, mas espero; sei de que lado a alvorada surgirá.” (p.110) André Gide FRUTOS da TERRA / tradução de Sérgio Milliet