“O que Jünger viu na Primeira Guerra Mundial desenrolou-se com uma força tão enorme que para ele deve ter parecido impossível pensar que aquilo não era essencial, que expressava apenas uma dimensão periférica da humanidade, que não passava de um acidente isolado, contingente, excepcional. Pelo contrário: durante a guerra ele se encontrava justamente no centro absoluto da humanidade, da maneira como se apresentava quando praticamente tudo no mundo externo havia se afastado e restavam apenas as grandezas mais simples e mais fundamentais: a vida e a morte. Não é difícil compreender que tenha se sentido dessa forma, porque em um momento ele era um rapaz de dezenove anos que vivia em mundo de amigos e família, escola e livros, uma que outra paixão efêmera, um pai enxadrista que assoviava MOzart no banheiro e uma mãe que lia Ibsen e de fato o havia conhecido, e que levou os filhos em uma peregrinação à Weimar de Goethe; no momento seguinte vivia em um mundo de barro, lodo, frio, fome, cansaço e morte súbita, sob um céu repleto de fogo e metal.“(p.558) Karl Ove Knausgard Minha Luta 6 volume O Fim
Faço dolorosas analogias. Sinto tanto frio! Tanto frio! E o corpo todo desarrumado numa dor muscular gritando. E não faço a tal da necessária dieta, nem as caminhadas regeneradoras, e não termino a guerra! Nenhum gesto de doçura ou carinho. Então acredito que esperar é possível, passar o tempo também vai ser alívio. Voltar ao que era antes, pode ser, e o sorriso, a coragem, a força arrasta as soluções, e, eu te parabenizo, meu querido. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2022 – Torres