Estes casamentos que acontecem tão depressa! Histórias se misturam: pode ser apenas um, aquele do primeiro encontro, mas mesmo este único será, assim mesmo, vários.
Agora, neste inverno forte, em baixo das cobertas, congelada no tempo, escuto /leio alguém te fazer um elogio. Tens uma imagem, uma história. És sobrevivente. Acometido por ideias/pensamentos/ e com voz dizias a verdade, aquela verdade que ninguém quer ouvir. Foste sentenciado, anistiado, amado, e vitorioso. De batalhas sobreviveste, lutando na linha de frente, nunca nas trincheiras. Mas não quero te dizer/narrar, tantas vezes escreveram sobre tua guerra, e teus livros, focam o tempo, eternizam aqueles anos… Quero me contar, me explicar, ou me dizer mentiras, inventar histórias. E, como sempre faço, escrevo cartas. Esta, provavelmente, não lerás. Já não importa. Não terei resposta. Aliás, os envelopes, tuas palavras corriam por dentro e se derramavam pelo apartamento, e se debruçavam nas sacadas, espiavam o mar, adoravam o vento, e bebiam sopa, Mozart e a saudade! Eu sempre mastigava saudade, por isso estás vivo. Dentro de mim.
De meus casamentos, o contigo, foi iluminado, fácil, vibrante: cheio de pequenas/curiosas histórias: pactos. Narrativas. Somos, tu e eu, este amontoado de narrativas. E deveríamos estar juntos ainda hoje. Tu me salvaste. Tu me deste o sal e a garra, e os instrumentos. Fui cruel, como todas as pessoas. Como te amava muito e muito e muito, eu também te maltratava dizendo o impossível de se dizer, afunilando, alargando sentimentos e fantasias. Céus! Cruel eu fui, mas tu vias em tudo o meu derramado amor. E os abraços e os beijos superavam o tempo. Elizabeth M.B. Mattos junho de 2022 – Torres – seguirei escrevendo. Uma carta, outra.
