
Agarrar o primeiro parágrafo e se deixar levar – “a vida arranha” escreve Ana Gilbert: “Numa cidade medieval, cercada por muros de pedra, circulo perdida em labirinto. Sei que não estou só; ele está comigo, em sugerida presença, apenas. Ando, retrocedo, perco-me no temor de ser vista. A morte espreita com seu perigo frio”.(p.73) A Respiração do Tempo – Uma edição MINIMALISTA – maio de 2022. Leio, interrompo, vou eu também cercada por muros de pedra, paraliso e todas as leituras se misturam, loucas / a gritar, e a cabeça explode, saio a caça do livro lido. “Essa divisão entre imaginação e intelecto o predispunha a tornar-se ou um artista ou um neurótico; ele estava entre aqueles cujo reino não é deste mundo. Daí resultou interessar-se pelo relevo que representava uma jovem caminhando de forma peculiar e tecer sobre ela suas fantasias, imaginando para ela um nome e uma origem, situando-a na cidade de Pompéia, soterrada há mais de oitocentos anos, até que por fim, após um estranho sonho de ansiedade, sua fantasia da existência e da morte de Gradiva ampliou-se, passando a constituir um delírio que influenciava suas ações. Tais produtos da imaginação seriam considerados espantosos e inexplicáveis numa pessoa da vida real; no entanto, como nosso herói, Norbert Hanold, é uma pessoa fictícia, talvez possamos perguntar timidamente a seu autor se acaso sua imaginação não terá sido determinada por forças outras que não as da sua escolha arbitrária.” (p.17) Sigmund Freud Delírios e Sonhos na Gradiva de Jensen – editora Imago 1997
Estas alucinações, presentes neste emaranhado de leituras me deixam febril, inquieta, sem tempo. Já o tempo de dizer ou expressar ou conversar parece irrisório, impossível, precário, mas tão necessário! Uma leitura atropela a outra e eu me distraio sem rumo, perdida ou represada, congelada neste inverno, igual a todos os invernos gelados do Rio Grande do Sul, mas diferente, único: o meu inverno de 2022. Parabenizo Ana Gilbert pelo completo, pelo pleno dizer e desenhar, lançar… Esta rede preciosa de interpretação, explicitação e segredos. O teu livro está cheio de pequenos segredos, mas a escrita definitiva, afinal, escrever é mesmo gritar. Obrigada. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022 – Torres
O processo de cura é realizado numa reincidência no amor, se no termo ‘amor’ combinamos todos os diversos componentes do instinto sexual; tal reincidência é indispensável, pois os sintomas que provocaram a procura de um tratamento nada mais são do que precipitados de conflitos anteriores relacionados com a repressão ou com o retorno do reprimido, e só podem ser eliminados por uma nova ascensão das mesmas paixões. (p.95) Sigmund Freud – Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen
A leitura do festejo, das referidas CARTAS! Céus!, diálogo altivo, o grito. O grito reprimido e belicoso, ou conciliatório? Esquisitas leituras / esquisitas vozes / que enorme silêncio neste movimento! Acordo os fantasmas, converso com o tempo, leio e depois adormeço. Obrigada pelo livro A respiração do tempo. Nunca estarei curada deste amor da ausência. Festejo, alienada, o teu regresso, meu querido. Prometo. Não vou citar ninguém, nada, nem lembrar, vou apenas te escutar. Vou esquecer das letras enquanto estiveres comigo. Apenas o teu beijo importa. As leituras se misturam, e as minhas associações, esquisitas… por quê?
