
“Ter dom é perder-se, se não se vê claramente, a tempo de endireitar as rampas e de não descê-las todas. Vencer um dom deve ser o projeto de quem o constata em si. E esse projeto é delicado se, por acaso / por azar, o dom é percebido um pouco tarde.” (p.31)
Suponho que a pessoa se atrapalhe, e, se enrole, estupidamente, nos fios das facilidades. Começar a trabalhar quando a hora é brincar. Correr quando se deveria olhar as árvores e as nuvens. Dormir demais ou dormir de menos. Não comer ou se exceder. Uma confusão completa nas vontades porque tudo é vontade, a vontade se confunde com a facilidade: desordem. Fica-se a consertar as costas, a pegada, a fantasiar o café da manhã, até o olhos do outro. O colorido das amoras azuis, transbordam vermelho, amarelo. Confunde-se a vida com o dom, com a facilidade. ah! Os amigos atentos! Os familiares que esticam a fita e nos deixam passar!
“Câimbras que sofro nos meus órgãos e que reproduzem as singularidades nervosas às quais a infância se entrega às escondidas e por meio das quais ela acredita conjurar a sorte”(p.34)
Prioridades inúteis, logo aquele cansaço perdido, espalhado pela casa como se fosse a desordem permanente de não ser: quero dormir sem sono, acordar sem preguiça, comer sem gula, não sentir dor de cabeça, nem no estômago, nem arrastar o coração nas calçadas molhadas, nem no lodo da saudade, nem guardar, nem fechar a porta. Quero voltar ao começo, mas não sei exatamente em que ponto…quando comecei a caminhar e a corre?! Ou aquele tempo de fazer piano, de fazer pensar, de quer ir até o fundo do quintal, subir na árvore, fazer fogueira, ou apenas olhar os nós de pinha ou pinho?/! chorarem vermelho? Ah! E os textos já foram magistralmente dominados e escritos escritos. A viagem seriam os idiomas. Viagem extraordinária na comunicação do outro: espectador. Não acrescento. Nenhuma palavra importa. Nossa infância, igual a todas as infâncias. o frio congela, o calor exaspera, as distâncias aumentam, os sonhos diminuem: confusão. Dificuldade. Aquele atropelo para dizer / falar depressa na pressa do outro: quem tem tempo livre para me escutar, quando eu estou, de fato, disponível. E porque não há convergência?
Ah! Jean Cocteau!
“Eu tenho poucas palavras na minha pena. Reviro-as de todos os lados. A ideia galopa na frente. Quano ela para e olha para trás, me vê lá atrás. Isso a deixa impaciente. Ela foge. Não a encontro mais. Abandono o papel. Ocupo-me com outra coisa. Abro a minha porta. Sou livre. Basta dizer isso. A ideia volta com toda velocidade e me lança ao trabalho.” (p.35) Jean Cocteau A dificuldade de ser

Genial!