não posso acreditar que ao esquecer as datas, esqueço o acontecido.
nem posso imaginar que estou a rever filmes e reler livros, quando tantos importantes esperam…
nem que a louça fica empilhada sem ser lavada,
as roupas empilhadas na cadeira, e que deixo o café esfriar
não posso imaginar indolência e distração assim continuadas.
sempre achei que não terminaria nunca a curiosidade, a novidade do novo.
o tempo não seria/teria esta largueza, nem tédio, nem passaria tão apressado, descuidado.
não posso acreditar que olhei uma foto de casamento, mas não vi a noiva, vi todos ali, menos a noiva
observei a beleza da minha mãe, a serenidade do meu pai e a brejeirice da irmã,
não vi a noiva.
céus! sentada no primeiro plano; peço desculpas, não sei
não posso acreditar que acabo de dizer o que não penso, e penso no que não posso dizer.
não consigo acreditar nos desastres, nem que fui a Lajeado conhecer teu irmão, ou estive em Buenos Aires, dentro de uma mala, ou que tenha descido do teu carro pela janela (a porta enguiçou) quando cheguei a Búzios (risos),
e sou fiel.
não posso acreditar que revisito velhos amores ao lado do amado!
não posso acreditar em mimoseiras, nem nos jacarandás: gosto dos jasmineiros, das buganvílias, das pitangueiras.
não posso acreditar no que penso, ou sinto,
não posso deixar de ser alienada e distraída, mas protegida pela armação polida,
concentrada, fico/permaneço atrás do escudo
não posso acreditar!
vou dançar o baile
não posso acreditar na felicidade surpresa! tão surpreendente é . Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022- Torres
