Cartas, caminhos: desejo de estar no lugar certo: o lugar que não existe, porque é o outro. Desejo de estar na paixão da loucura, e, da razão: somos o outro, para o outro. E nos desfolhamos enquanto nos entregamos, sendo. Tenho a certeza (inquieta) que o sentimento flutua no jeito certo do bilhete, do eco que a voz da carta expressa, reclama, notifica, explica, cifra. Uma leitura espiã, ler a correspondência de alguém, espicaçá-la na violação, ou escrever uma carta na rapidez, no recorte do momento. Sinto assim. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2022 – Torres -enfileirando os livros…, querendo fazer ordem nesta barafunda que são as minhas estantes. E a música assume o comando.

[1918]
Esta tarde eu me saturei de música pour revivre, e para esquecer (uma contradição de palavras). O meio foi uma pianola, mas podemos desculpá-la, estava tão bem tocada…Oh minha querida, não há nada neste mundo igual à música: “la raison est trop faible, et trop pauvres les mots” ai de mim! para suas artes irmãs – não há nada que se compare.
Ouvi Grieg, malicioso, irrequieto, imaginativo, romântico – às vezes tão latino apesar do seu sangue norueguês… Você adoraria Grieg. Você adoraria o ritmo saccadé das danças de Anitra e o horror grotesco de “Nos Halle des Bergkonings”. Na terra mágica da música, Grieg representa o gnomo para o mago Debussy…
Depois ouvi Dbussy, e quase tive uma vertigem ao ouvir a beleza de La Mer (tão parecido com Irkutsk) e de sua Petit Suite – que é o epítomo da intrepidez, da alegria e da impudência do século dezoito. Oh, minha querida, eu poderia fazer você amar Debussy tanto quanto eu mesma amo, só que isso levaria tempo. Depois com um epicurismo de Marius, selecionei Brahms, o selvagem, o ” exultante”, o livre – seu músico, por excelência. Na verdade, toquei você, em tudo , ou quase tudo o que ouvi… (p.95) De Violet para Vita – As cartas de amor de Violet Trefusis para Vita Sackville (1910-1921) Editora LPM
