revisão novembro de 2022

Acordar assustada, no meio do caminho, significa que ela dormiu no meio do caminho, ela, simplesmente, dormiu. Há uma lacuna. Fadiga, ou alucinação.

Voltar no tempo, presa, amarrada. Assim, surpresa… No hoje, circular vaidade, ou expectativa?

Bebe o café, acalma o corpo. Enche a caneta com tinta preta, os dedos ficam levemente manchados, escreve no caderno: Colégio Nossa Denhora das Graças – Cônegas de Santo Agostinho . As Madres.

Decidido, iria para o internato, as lágrimas impressionaram Madre Paulina. Aceitaram a menina que morava em Porto Alegre, da excessão, outras vieram, como a Lala e a Zênia, Cristina, Marta. Éramos poucas portoagrenses, muitas de fora. Eu me sentia recompensada. Teria as minhas histórias de colégio como a mãe que estudou em São Leopoldo no Colégio São José. Como minhas irmãs que estiveram internas no Colégio Americano em Porto Alegre. Ah! Eu tocava / materializava a felicidade.

O enxoval incluia, além dos uniformes, camisolas: lindas! De algodão / cambraia branca, rosa, amarela e azul. Muitas! Duas abaixo dos joelhos, e, as outras, mais compridas, na altura dos pés. Chinelos de couro pintado. Tênis branco. Um sapato de verniz. O bordado inglês segue movimentos variados conforme decotes e abotoados. Lençóis macios, brancos. Dois travesseiros. Cobertores eram mantas coloridas, e uma colcha toda branca. Livros permitido: uma caixa. Entusiasmada acolhendo sugestões eu fiz a seleção acatei sugestões da mãe elucidando a importância deste ou daquele autor, essenciais. O pai sugeriu biografias, ponteiam a história e caminham na geografia. A biblioteca da nossa casa era separa das salas por um biombo precioso, pintado /desenhado em nanquim de Glauco Robrigues representando A Lenda da Salamenca do Jarou. Imponente biblioteca aquecida por uma lareira em lambri mármore. As estantes, em louro separadas e decoradas com lambri entalhado, rosáceas, iam até o teto! A pequena escada de quatro degraus me ajudava. Os livros de Direito ocupam a parede principal, e a Revista Forense com lombada vermelho, tinham letras doradas, as iniciais do pai R.M.B. Mattos. Sentiria saudade dos livros, e da aventura: Eça de queirós. Gilberto Freire, Dionélio Machado, Vianna Moog, Graça Aranha, Euclides da Cunha, Antônio Tores, o teatro de Paulo Hecker Filho, Érico Veríssimo, Alcides Maia. Enciclopédia. Dicionários, e, as revistas de decoração da mãe, em estante especial. Difícil seleçao. Na caixa foi Charles Morgan, W.Somerset Maughan, Thomas Mann, Guy de Maupassant, Georg Sand. Audaciosas leituras para uma menina, Tanto devorei livros! Muitos sem entender exatamente, atropelando, voltando. Riscando (para escândalo de minha mãe) e acertando, como dizia meu pai: faça fichas. Coloque as datas das tuas leituras. E voltes e voltes naqueles que fascinam.

A ida para o Internato, uma conquista pessoal, meio a lágrimas: teria, finalmente, um quarto só para mim, meu quarto, minhas coisa entendidas secretas, e a independência presa/pendurada nos horários obedientes. E toda a altivez das Madres francesas. Educadoras que nos preparavam para a Filosofia. Aulas de piano e solfejo, jardinagem, costura, culinária, cerâmica, desenho com Madre Santo Ambrósio. Caberiam minhas leituras…E o silêncio da mata. Os eucaliptos. ah! Eu estava/era/fui feliz. Gostava dos aventais fechados, como vestidos de verão: blusas brancas, impecáveis. E meias brancas, sapatos pretos. As saias com pregas largas de lã. As passadeiras que da cintura iam para os ombros e finalizavam atrás, permitiam identificar pelas cores a série escolar, o ano que estávamos. Verde, azul, amarelo, branco com risca vermelha, branca (acho que esqueci algumas).

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