Todos os dias não significa nada, todos os meses? faz dois anos? Dois anos que persigo o tempo, o ar, o vento, a mudança das estações? Não sei. Persigo. Danço para me veres. Ou troco os móveis de lugar, procuro outras ruas, outra cidade, outro país… Eu não gosto de mudar, gosto das raízes. Não importa. Eu mudo. Se amanhã fosse morar em Porto Alegre, ou no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife com Luiza, por que não iria? Iria. Mudei tanto quando era criança, um tempão aqui, outro ali, os amigos dali, depois os daqui… Uma chatice sem solução, nenhum brinquedo na caixa, tantas crianças, aquela comida mais ou menos, as frutas do lugar, os pinheiros, os cones, o inverno… Uma saudade esquisita. Os verões em casa. Em casa sempre estás… Eu acho, as lembranças se misturam com os sentimentos, fazemos uma tremenda confusão entre o real, e o desejo. Onde, em que caixa, eu te escondi, não sei. Meus bonecos eram de papel. Guardei dentro dos livros de Monteiro Lobato. Gostava de trocar as roupas, de imitar as vozes, de surpresas. Não sei se gostava daquelas histórias, lembro delas. Demorei tanto para apreender a ler, e escrevia garranchos, desenhava mais ou menos: rodinhas, quadradinhos, florzinhas, casinhas pequenas e grandes. Eu te desenhava chegando, mas nem sempre ficavas, suficientemente, nítido, suficientemente tu… Hoje queria te escrever uma carta, apertar tua vontade de escrever, mas não sei se lembras de mim, coisas sérias te cercam… Aqui, o brilho da lagoa. Elizabeth M.B. Mattos – Torres – 2023
