FONTE

Infância e memória: fonte de erro, engano, ilusão e tanta vida. O descaminho e a confusão da imaginação. Quantas vezes ocorreu-me sonhar durante a noite, junto ao fogo da lareira, quente. Quando abria os olhos, não estava lá, mas nos teus braços. Pensarei. Penso que o céu, o ar, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas externas a mim são ilusão, enganos, invensão. Reconstruo o homem. Ele tem a tez escura, os olhos pretos. Nariz grande, boca rasgada. E perfume no corpo. Braços e mãos de pescador. Quente e terno. Estou no desejo dele, no corpo dele e na minha imaginação.

Comprei flores, um pequeno baú com chave para guardar suas cartas. Um relógio, uma lupa. Brincos com pérolas pequenas. Um anel de ametista, sem lapidação…

Levei dois cálices para água, dois para vinho. Frutas lustradas, perfumadas – a pequena cesta ficou festiva. Chás. Ervas naturais. E as hortências estavam refesteladas. Vestido com decote. Invadi a calçada. Entrei na loja para o surpreender. E me deliciei. Os tecidos, exóticos. Mercadoria preciosa: China, Paquistão e também da África colorida. Levo o livro de Rainer Maria Rilke As cartas ao jovem poeta, nas margens desenho letras de confissão. E claro! Paris é uma festa, por que não reler também Não apresse o rio, porque ele corre sozinho…

Memória misturada, prazer apressado, tua voz. Elizabeth M. B. Mattos – maio de 2023 – Torres, mas tanto Porto Alegre, idas e vindas. Estar contigo deixando a vida correr por aqui: foi tão bom!

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