AS BRASAS

(…) “Era da raça de Chopin, ou seja, era uma criatura cheia de reserva e de orgulho. Mas no fundo da alma ocultava um impulso espasmódico: o desejo de ser diferente do que era. É o tormento mais cruel que o destino pode reservar ao homem. Ser diferente do que somos, de tudo o que somos, é o desejo mais nefasto que pode queimar num coração humano. Pois a única maneira de suportar a vida é se conformar em ser o que somos aos nossos olhos e aos do mundo. Devemos nos contentar em sermos feitos de  uma certa maneira e em sabermos que, uma vez aceita essa realidade, a vida não nos louvará por nossa sabedoria, ninguém nos conferira uma medalha de honra ao mérito só porque nos conformamos em ser vaidosos e egoístas, ou calvos e barrigudos – não (…) Devemos nos suportar tais como somos, esse é o único segredo. Suportar nossa caráter, nossa natureza profunda, com todos os seus defeitos, seu egoísmo e sua cupidez (…) Devemos aceitar que nossos sentimentos não são correspondidos, que as pessoas que amamos não retribuem o nosso amor, ou pelo menos não como gostaríamos. (…) eis algo que apreendi no decorrer de setenta e cinco anos aqui no bosque.” (.p106)

 

Sandor Marái, As Brasas

Um comentário sobre “AS BRASAS

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s